terça-feira, 11 de agosto de 2009

Brüno


O inglês Sacha Baron Cohen conquistou o mundo em 2006 com Borat, um pseudo-documentário sobre um repórter do Cazaquistão que viaja aos Estados Unidos – ou “US of A”, como ele diz – para aprender tudo sobre o país. A grande sacada do filme era flagrar as reações que Borat e seu comportamento politicamente incorreto causavam no interlocutor, que não sabia estar participando de um filme e muitas vezes respondia às questões estapafúrdias do personagem com uma seriedade absurda. O confronto entre a anarquia e desprezo pelas convenções de Borat e o conservadorismo e ignorância de pessoas das mais diversas faixas sociais deixou como saldo um retrato assustador do povo americano e seus preconceitos, muitas vezes mais arraigados do que os do caricato personagem.

Seguindo a mesma linha documentário-mentira de seu filme anterior, Cohen agora é Brüno, jovem fashionista austríaco que tem sua reputação destruída e seu programa de TV cancelado depois que causa uma tremenda confusão na semana da moda de Milão: o cara simplesmente acaba com um desfile ao se enroscar em tudo com um macacão todo de velcro. Magoado com o repúdio de seus compatriotas e disposto a se tornar a maior celebridade austríaca desde Hitler, Brüno resolve ir de mala e cuia para os Estados Unidos.

Mais uma vez, Cohen faz graça a partir dos preconceitos alheios ao provocar as pessoas com sua postura escandalosamente homossexual, mas, por outro lado, também desperta a ira dos politicamente corretos ao falsear atitudes abusivas, como no caso em que participa de um talk show cuja plateia é essencialmente negra e repete inúmeras vezes a expressão “afro-americanos” de maneira equivocada. Não contente, o ator apresenta uma sessão de fotos de péssimo gosto no qual expõe a situações delicadas um bebê negro que diz ter adotado depois que o trocou por um iPod. Acredita-se que a produção do talk show estivesse a par da encenação, mas não a plateia, que parece genuinamente revoltada com o comportamento do personagem.

E o que dizer da passagem em que Brüno mostra para um grupo de teste numa emissora um piloto de programa que contém absurdos como uma coreografia de seus órgãos genitais na abertura? Mais uma vez, é evidente que os executivos da emissora estavam por dentro da proposta, mas não as pessoas que assistiram ao programa.

Também é divertida a saia-justa na qual ele mete celebridades como Paula Abdul, que vai a uma reunião com Brüno e se depara com mexicanos sendo usados como mesas e cadeiras. Ou os momentos em que ele faz figuração no seriado Medium e atrapalha a gravação tentando aparecer (mais uma vez a dúvida: quem sabia e quem não sabia?). São tantas gags, referências e sátiras que ficaria difícil mencionar ou até mesmo lembrar de todos que entram na mira da saraivada de piadas de Cohen. Outro mimo para o espectador são as participações especiais da última cena.

Brüno é uma repetição do mesmíssimo esquema criado por Sacha Baron Cohen para Borat, com a diferença que o machismo e anti-semitismo de Borat foram trocados pela sexualidade exacerbada e deslumbramento de Brüno. Mas o humorista continua impagavelmente cara-de-pau, ao conseguir manter uma expressão séria e compenetrada enquanto diz os maiores absurdos. É grosseiro e apelativo sim, mas também é irresistivelmente engraçado. Destaque para o modo como ele insere aleatoriamente algumas palavras em alemão no meio da frase (é um tal de ich pra cá, über pra lá) ou põe terminações cheias de consoantes nas frases para fazê-las soar germânicas e/ou obscenas. Agora é esperar para conferir qual o próximo personagem que Sacha Baron Cohen irá usar para desancar o povo americano. Sexta-feira nos cinemas.

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