quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Marido Por Acaso


Como todo cinéfilo que se preze está cansado de saber, as comédias românticas gravitam em torno de um universo paralelo ao nosso. É um mundo onde coincidências incríveis acontecem o tempo todo, grandes desafetos escondem paixões incontroláveis e todos os sapos se transformam em belos príncipes ao longo da trama. E, claro, não importa o que aconteça, mocinho e mocinha estarão felizes para sempre antes dos créditos finais. Poucas produções fogem dessa fórmula e cobrar coerência e verossimilhança desse estilo de filme é perda de tempo.

Então o que faz com que alguns exemplares do gênero sejam mais interessantes do que outros? Geralmente, uma boa escalação de elenco. Se os protagonistas são interpretados por atores carismáticos e estes tem boa química juntos, a coisa já fica suportável a despeito das indefectíveis forçações de barra do roteiro. Marido por Acaso, um filme cujo argumento não poderia ser mais bobo, é salvo do desastre certo por Jeffrey Dean Morgan e Uma Thurman.


A Dra Emma Lloyd, que ganha a vida dando conselhos sentimentais em um programa de rádio, é uma mulher prática e repudia relacionamentos baseados em atrações explosivas. Emma sempre aconselha suas ouvintes a buscar homens estáveis, sérios e previsíveis – como seu noivo, Richard. Sofia, cheia de dúvidas quanto ao iminente casamento com o impulsivo bombeiro Patrick, toma as palavras da “doutora do amor” ao pé da letra e termina o relacionamento. Revoltado, Patrick não pensa duas vezes quando o vizinho hacker se oferece para ajudar a dar uma lição em Emma e os dois alteram o registro civil dela. Quando Emma e Richard vão dar entrada nos papéis do casamento, descobrem que ela, oficialmente, já é casada. E com o próprio Patrick, de quem nunca ouviu falar. A partir daí, Emma e Patrick se conhecerão e protagonizarão uma sucessão mal-entendidos.

Apesar dos inevitáveis delírios da trama (sendo as cenas perto do final as mais absurdas), os personagens tem características críveis. Emma é impiedosa com os homens por seu histórico conflituoso com o pai, o que fez com que ela se abrigasse na racionalidade desde cedo. Ela acredita em seus argumentos e é com essa frieza de raciocínio que detona os planos de casamento de Sofia e Patrick, mesmo sem conhecê-los. Claro que o simples fato de Sofia ter ligado para o programa já demonstra sua indecisão, mas Patrick quer encontrar um culpado e dirige sua raiva para Emma. A vingança dele parece infantil, mas combina com o jeitão do personagem. Patrick é meio rústico, gosta de futebol, cerveja e de sair com os amigos. Nada muito diferente do americano médio, apenas um cara com mais testosterona do que a doutora acha recomendável.


Quando Jeffrey Dean Morgan entra em cena vestido de bombeiro, a gente quase sente pena do coitado do Colin Firth (o noivo). Não bastasse Jeffrey ser um dos quarentões com maior sex appeal do cinema, ainda vem caracterizado com aquela macheza de soldado do fogo – quase uma fantasia ambulante. Uma Thurman, linda e aristocrática, não demora para começar a tecer comparações e rever seus conceitos. Patrick é espontâneo, divertido e surpreendente. Tudo que seu noivo não é e que ela mesma pensava repudiar até então. Ajudados por alguns daqueles equívocos que parecem acontecer tão-somente para manter os protagonistas mais tempos juntos, os dois se aproximam e a doutora começa a entender que para nem tudo na vida há um diagnóstico infalível.

Claro que também tem muita enrolação no roteiro, como por exemplo todas as cenas relativas à família indiana com quem Patrick mora. Os personagens não tem nenhuma importância, parecem estar ali para preencher algum tipo de cota étnica. E a festa do menino hacker (uma espécie de Bar Mitzvah deles) não tem outra função senão mostrar Patrick lindo de traje típico e deixar Emma apaixonada de vez. Marido por Acaso é uma bobagem, sim. Não vai mudar a vida de ninguém. Mas traz uma hora e meia de diversão escapista com dois bons e charmosos atores em cena. Se você suspira por Jeffrey Dean Morgan ou Uma Thurman, pegue o saco de pipoca e vá em frente. Sexta-feira nos cinemas.

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