segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Rebú


O espectador carioca tem apenas mais uma semana para conferir Rebú, o novo e instigante espetáculo da Cia Teatro Independente. Depois de uma longa temporada com Cachorro! – um mergulho no universo rodrigueano e na dramaticidade do tango –, a companhia teatral estreia um novo texto do dramaturgo Jô Bilac.

A trama é simples e remete ao estilo dos folhetins de época: os recém-casados Bianca e Matias tem sua felicidade conjugal atrapalhada pela chegada da sorumbática Vladine, irmã de Matias que supostamente se encontra à beira da morte. Ranzinza e cheia de exigências, a megera enlouquece a cunhada com suas demandas impossíveis. Como se não bastasse, ainda traz consigo outro hóspede cheio de particularidades: Nathaniel – falar mais sobre ele é estragar uma excelente surpresa. Mas nada como um dia depois do outro. Bianca aguenta as desfeitas calada, até o dia em que descobre algo que usará sem piedade contra Vladine. No meio do fogo cruzado entre as duas mulheres de sua vida, Matias não percebe a bomba-relógio prestes a explodir. E o público, tão indeciso quanto ele, terá dificuldades em eleger uma vilã.

Assim como ocorria em Cachorro!, a direção, cenografia e toda concepção teatral é cuidadosamente pensada de modo a potencializar e ressaltar a interpretação dos atores. Sobre um tablado de madeira vazio, com apenas uma cortina ao fundo e tendo a iluminação como principal recurso dramático, os ótimos Carolina Pismel, Júlia Marini, Paulo Verlings e Diego Becker se digladiam numa história repleta de jogos de poder, rompantes de ciúme, promessas de amor e fidelidade, segredos tenebrosos e reviravoltas melodramáticas – sem contar a deliciosa pitada de surrealismo inserida pelo personagem Nathaniel.

A direção firme e precisa de Vinícius Arneiro entrega um espetáculo vibrante e cheio de tensão, mas igualmente temperado por um humor bastante refinado. Num equilíbrio perfeito entre o trágico e o cômico, o espetáculo mantém o espectador de olhos bem abertos para a explosão de variadas emoções que brotam de cada um dos atores, numa encenação que certamente os deixa esgotados fisicamente, dada a intensidade com que eles se entregam à cena.

Também não se pode deixar de notar a beleza das partituras de movimentos, que muitas vezes se assemelham a passos de tango ou dança flamenca (característica também presente em Cachorro!, e aqui melhor explorada por conta do tablado de madeira). Mais do que uma mera coreografia, a movimentação dos atores em cena parece captar o espírito de intenso drama dessas artes. A iluminação – perfeita! – busca inspiração no cinema, em especial no expressionismo alemão, e diz muito mais com suas luzes e sombras do que qualquer cenário ou acessório decorativo.

Rebú é um espetáculo, no real e completo sentido da palavra, e tem que ser visto por todos, mas sobretudo por quem trabalha com linguagem teatral. É uma aula.

Rebú. Até 30 de novembro, na Sede da Cia de Atores. Rua Manoel Carneiro, 10/12 – Lapa (Escadinha Selarón). Sábado, domingo e segunda às 20h. Ingressos R$20. Duração: 1h15.

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