domingo, 29 de novembro de 2009

Sonhos de um Sedutor


Gostando ou não de seu trabalho, ninguém pode negar que Woody Allen tem uma marca inconfundível, como só os grandes gênios costumam ter. Quando pensamos no cineasta, a primeira palavra que vem à mente é neurose. E isso ocorre porque o foco central de seus filmes sempre foi a figura humana, com suas fobias e bizarras contradições. Woody é diretor, roteirista e, muitas vezes, protagonista de seus filmes. Mas o nova-iorquino Allan Stewart Konigsberg – ou simplesmente Woody Allen, apelido que inventou para si mesmo – passou por diversas fases até encontrar a maturidade atual. No começo de sua carreira, enveredou por comédias amalucadas, como Um Assaltante bem Trapalhão, Bananas e O Dorminhoco. Justamente nesta época, seu primeiro passo em direção ao cinema mais intelectual que ele faria a partir de Annie Hall (1977) se deu pelas mãos de outro diretor.

A despeito de ter sido dirigido por Herbert Ross, Sonhos de um Sedutor é a representação clara de uma transição na carreira de Woody Allen. Tanto que muita gente credita sua direção ao próprio Woody Allen e não a Ross – o que é compreensível, já que o roteiro foi escrito por Woody a partir de uma peça de teatro que ele escrevera alguns anos antes. De todo modo, o longa explora um tema que seria retomado com maestria em A Rosa Púrpura do Cairo: o do personagem que tenta obter através do cinema as respostas que não encontra na vida real. Já o título original, Play it Again, Sam (Toque de novo, Sam), brinca com a famosa frase de Casablanca que, na verdade, nunca foi dita desse modo no filme.

O protagonista da história é Allan (nome verdadeiro do cineasta), um crítico de cinema com tendências depressivas que acaba de ser abandonado pela esposa. Um casal de amigos, Dick e Linda, tenta lhe arrumar encontros com outras garotas, mas o coitado se atrapalha cada vez mais depois que começa a receber conselhos de Humphrey Bogart, ou melhor, Rick Blaine (com direto a sobretudo e chapéu). Boogie brinda Allan com conselhos no mínimo duvidosos e lhe diz pérolas como “nunca conheci uma mulher que não entendesse um tapa na boca”. Para embaralhar ainda mais as coisas, Allan começa a perceber que sente-se atraído por Linda e que ela é a única mulher com quem ele se sente à vontade.

Sonhos de um Sedutor é um trabalho divertido e referencial, mas ainda bastante imperfeito em termos de roteiro. Alguns diálogos soam um pouco artificiais e algumas gags parecem exageradas, mas essa sensação se impõe sobretudo pela comparação com a trajetória posterior do cineasta. O que é especialmente interessante de ser observando pelo espectador que admira a obra de Woody, já que a trama parece uma espécie de rascunho da maturidade artística que ele começaria a consolidar a partir de Annie Hall. Outra curiosidade é assistir à primeira das inúmeras parcerias entre o cineasta e a atriz Diane Keaton (com quem ele foi casado depois disso). E convenhamos, um trabalho imaturo de Woody Allen ainda é muito melhor do que a filmografia inteira de certos diretores.

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