quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Avatar


A febre do 3D é uma moda que eu sempre vi com incredulidade e certa impaciência. Essa onda já veio nos anos 80 e não pegou. OK, péssima comparação. Reconheço que hoje em dia a coisa é muito mais sofisticada do que na minha adolescência, mas, ainda assim, minha reserva à novidade se deve ao fato de nunca ter visto antes um filme realmente bom em 3D. Como se o efeito por si só bastasse e pronto. Neste sentido, podemos dizer que Avatar é a redenção do 3D. Finalmente, a técnica do momento é usada a serviço de uma história consistente e não como muleta para incrementar um roteiro capenga. James Cameron realmente dá uma aula de como integrar o 3D ao filme ao invés de jogá-lo na cara do espectador como um adereço exibido. Ponto para ele. Mas a pergunta é: seria Avatar esse espanto todo, considerando que Cameron não dirige desde Titanic (1997) e tenta viabilizar este filme há nada menos que quinze anos? Sim. E não.

A trama se inicia quando Jake Sully, ex-fuzileiro naval confinado a uma cadeira de rodas, chega a uma base militar no planeta Pandora. Jake tem a oportunidade de voltar à ativa porque seu irmão gêmeo, também militar e morto há pouco, participava de um programa secreto chamado Avatar e Jake seria o único a poder dar continuidade ao projeto por ter o mesmo DNA que ele. Como a atmosfera de Pandora é tóxica para os humanos, os cientistas desenvolveram corpos biologicamente idênticos aos dos nativos – os Na’vi – que são controlados à distância por seus correspondentes humanos, podendo, assim, sobreviver na atmosfera letal. Jake, em sua forma avatar, volta a andar e recebe a missão de se infiltrar entre os Na’vi, que se interpõem aos instintos predatórios dos humanos. Convivendo com eles, Jake aprende a conhecê-los e respeitar sua comunhão com a natureza, além de se envolver profundamente com Neytiri, uma orgulhosa guerreira. Acolhido pelo clã, Jake passa a ocupar um lugar na comunidade Na’vi e se ve dividido entre sua propria raça e aqueles que aprendeu a amar.

Em termos técnicos, Avatar é um dos maiores deslumbres já vistos na sétima arte – se não o maior. O visual do planeta Pandora, com sua flora e fauna exótica, é simplesmente indescritível. As cores, a textura, a profundidade de campo... Nada do que vemos na tela é menos do que perfeito. A técnica de captura de expressões faciais dos atores para serem aplicadas nas animações também dá um salto de qualidade gigantesco aqui. Quem já achava o Gollum do Senhor dos Anéis muito bom não vai conseguir desgrudar os olhos de Neytiri. A variedade de expressões e estados de ânimo contidos naqueles grandes olhos amarelos deixa o espectador de queixo caído desde a primeira aparição da personagem – e o mais curioso é que Zoë Saldana, que só aparece em cena através de animação, tem, de longe, a melhor interpretação do elenco. Mérito dela ou do técnico? Dos dois, eu acho.


Por outro lado, Avatar tem lá seus pontos fracos. Cameron, também um dos montadores do filme, certamente poderia ter sido um pouco mais rigoroso em termos de edição. Embora seus efeitos sejam muito bem aplicados e não resvalem no exibicionismo puro, é visível que muitas cenas são esticadas muito além do necessário. Compreensível, claro. As imagens são belíssimas, mas um montador que não fosse também o diretor talvez fosse mais impiedoso e imprimisse um ritmo mais fluido ao filme como um todo. E vamos combinar que uns vinte minutos a menos não faria falta nenhuma em um filme de duas horas e quarenta.

Outro aspecto que deixa a desejar está na pegada excessivamente juvenil do filme, que nas diversas cenas de batalha lembra bastante o universo dos videogames. Sensação que é ainda mais reforçada por alguns personagens secundários que soam como clichês ambulantes, sendo o mais irritante deles o militar “scarface” interpretado por Stephen Lang. Cheio de frases feitas e macheza histriônica, o mariner parece ser menos humano do que as criaturas alienígenas em computação gráfica. Mesmo que Cameron tenha elegido os adolescentes como público preferencial, nada impediria um melhor desenvolvimento nessa área.


Mas é claro que esses pecadinhos não invalidam a grande quantidade de acertos do filme, que de fato tem um apelo estético irresistível e sabe conjugar a perfeição técnica com uma bela história de amor, nobreza e heroísmo. Sentimentos antigos e eternos em um admirável mundo novo. Resta a nós, adultos, nos colocar no lugar do público-alvo do filme e lamentar não ter mais 12 anos. Esses sim, devem se render ao mundo de Avatar sem restrições. Estreia sexta-feira.

2 comentários:

  1. É realmente a obra-prima que eu estava esperando. Lindo, soberbo, maravilhoso.

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  2. Assisti Avatar somente hoje. Muito bom! Vamos aguardar o segundo filme.

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