sexta-feira, 12 de março de 2010

Histórias de Amor Duram Apenas 90 minutos


Zeca, aos 30 anos, ainda é um cara sem rumo na vida que vive da herança deixada pela mãe falecida. Embora talentoso com as palavras, vive às voltas com um romance estacionado na página 50 e passa seus dias na mais depressiva vagabundagem. Mas, apesar de não fazer nada de produtivo, ele não tem problemas financeiros e é casado com uma bela e independente professora de artes, Julia. O relacionamento caminha aos tropeções, em grande parte por causa das diferenças de temperamento. Ela vai atrás do que quer, ele fica sentado reclamando da vida. As coisas se complicam quando Zeca descobre que Julia o está traindo com Carol, uma dançarina de tango argentina liberal e cheia de alegria de viver. E complicam-se mais ainda quando o próprio Zeca começa a se encantar pela moça.

A dinâmica entre os personagens é muito interessante, a começar pelo fato do protagonista ser um sujeito imaturo – por vezes, chato mesmo – que cava seus próprios problemas e se afunda em vitimações. Mas o roteiro em nenhum momento glorifica seu modo de ser, seu estilo de vida; pelo contrário, todos os outros personagens o criticam com argumentos mais do que válidos. E o mais interessante é que a narração cheia de auto-comiseração feita por Zeca em off contrasta com as conclusões que o próprio espectador pode tirar a respeito dele. A começar pelo seu próprio pai, que embora seja apresentado por Zeca como repressor, vai se delineando diante dos nossos olhos como um cara que apenas não aguenta mais ver o filho não tomar nenhum rumo na vida. Ele tem pouca paciência sim, mas quem não teria após aturar a mesma ladainha por anos e anos? O mesmo se dá com Julia, que até gosta dele... mas não o respeita muito.

Paulo Halm, tarimbado roteirista, faz sua estreia como diretor de longas-metragens com essa inusitada tragicomédia. A trama tem uma lógica parecida com a de Pequeno Dicionário Amoroso (cujo roteiro foi escrito por ele) e não pretende apresentar um conflito fechado e sua solução e sim fazer um recorte na vida do protagonista. Zeca, apesar de sua idade cronológica, é um garoto mimado e reclamão e não é apenas essa desilusão amorosa em particular que o transformará em um homem. Mas talvez ele aprenda alguma coisa, por mínima que seja, a partir da série de burradas que comete com Julia e Carol. Ou não, como diria Caetano Veloso – que, aliás, abrilhanta a trilha sonora com sua versão de Nature Boy.

Considerando apenas seu argumento central, Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos poderia ter se convertido em um filme pesado, sério, cheio de implicações psicanalíticas. Mas a abordagem proposta por Halm é de puro deboche, ressaltando o ridículo das situações e não seu lado patológico – o que fica evidente já pelo título metalinguístico. Segundo Halm, que não gosta de rotular seu filme como comédia romântica, “o filme é sobre a geração que, apesar de ter talento, nunca decola. São escritores que escrevem e não publicam, cineastas que não filmam, compositores que não gravam”. Tendo como cenário a mítica Lapa, está criado o contexto ideal para que se desenrolem com muita graça as situações vividas por Zeca, Julia, Carol e mais uma penca de personagens colaterais.

O casal Caio Blat e Maria Ribeiro, que também são produtores do longa, interpretam na tela Zeca e Julia. Como não podia deixar de ser, a química entre os dois é excelente e a chegada da atriz argentina Luz Cipriota só enriquece o jogo cênico, formando um triângulo amoroso muito engraçado. Caio é tão talentoso que consegue tornar simpático um personagem de tão poucas qualidades, do mesmo modo que Maria atua com tanta verdade que faz a traição parecer coisa mais natural do mundo. Destaque para as inusitadas circunstâncias do primeiro contato mais íntimo entre Zeca e Carol. É de chorar de rir.

Um comentário:

  1. Em breve vai ter sorteio de entradas e brindes no blog do Histórias de amor e no Twitter @histdeamor

    http://historiasdeamorofilme.com.br/

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