quarta-feira, 17 de março de 2010

Um Sonho Possível


Podemos dizer que Um Sonho Possível já estreia por aqui cercado de polêmica. Não que o filme em si seja polêmico e sim por ter sido o responsável pelo primeiro Oscar de Sandra Bullock, ironicamente no mesmo ano em que a atriz foi também agraciada com um Framboesa de Ouro. Sandra está bem no filme? Sim, visto que se trata de um daqueles papéis feitos para favorecer uma atriz e ela, que não nasceu ontem, sabe aproveitar todos os momentos-chave para valorizar sua performance e demonstrar que tem talento. Mas ela merecia o Oscar? Bom, não era para tanto. Mas Reese Witherspoon e Julia Roberts trilharam esse mesmo caminho antes dela.

Baseado no livro de The Blind Side: Evolution of a Game, de Michael Lewis, o longa narra a história verídica de Michael Oher, adolescente com dificuldades de aprendizagem que encontra seu rumo graças à aceitação e amor da família que o adota. Michael teve uma infância traumática: aos sete anos foi arrancado pelas autoridades dos braços da mãe viciada. Depois disso esteve em diversos lares adotivos, fugiu de todos e aos dezesseis anos vive como um sem-teto depois que a família que o abrigava e lhe arrumou uma vaga numa escola chegou à conclusão de que não podia mais tê-lo em casa.

Só que Michael tem algo a seu favor: todas as características físicas para ser um bom jogador de futebol americano. É então que, numa noite fria, entra em sua vida Leigh Anne, esposa de um ex-atleta dono de uma cadeia de fast-food. Ao ver que o garoto – que estuda no mesmo colégio de seus filhos – dorme ao relento, Leigh convida-o para passar a noite em sua casa. Aquela noite se transforma em muitas, e Michael acaba se tornando parte de família. Logo fica claro que suas dificuldades são resultantes mais de falta de orientação familiar do que propriamente de um QI baixo e ele vai superando barreiras para progredir nos estudos e obter boas oportunidades de se desenvolver como atleta – nos colégios americanos, uma coisa não é desvinculada da outra.

Um Sonho Possível é mais um daqueles longas feitos sob medida para parecerem simpáticos. Uma trama edificante e politicamente correta, que ainda conta com o aval de ter sido baseada numa história verídica. E como os americanos adoram essas histórias de superação, como se precisassem delas para reafirmar constantemente a imagem de si próprios como os mocinhos e de seu país como “terra das oportunidades”. E é isso que mais incomoda em Um Sonho Possível (aqui, piorado pelo título em português lacrimoso): o modo como Leigh Ann e toda a sua família é sempre altruísta, honrada e desinteressada. Tudo muito cristão, muito certinho o tempo todo, nem mesmo os filhos em nenhum momento questionam a atitude repentina da mãe. E com isso, o filme perde em dramaticidade. É um filme sem conflitos, de um modo geral. O único conflito que surge perto do desfecho é tímido e pálido, não chega a causar a mínima apreensão no espectador – afinal de contas, todo mundo ali é civilizado e evoluído demais.


Resumindo: Um Sonho Possível é agradável de ser assistido, especialmente pela espontaneidade e carisma do garoto Jae Head (o SJ), mas também é esquecível na mesma medida. Provavelmente seu lançamento em tela grande se deve única e exclusivamente à premiação de Miss Bullock. Sexta-feira nos cinemas.

2 comentários:

  1. Amplamente bobo, clichento e ainda teve o louvor de ser ótimo de bilheteria, vai entender...

    Não acho que Bullock merecia, era a mais fraca das indicadas. Perder pra Carey Mulligan? Complicado...

    Tem filmes mais superiores a este e ele foi indicado ao Oscar de melhor filme...além da equivocada indicação à Bullock, mas...depois de prêmios estranhos a Julia Roberts e Reese Whiterspoon - entendemos...

    Achei esse filme muito fraco.

    Já viu Entre irmãos? A atuação de Natalie Portman está mais densa e perfeita que a de Sandra Bullock...

    abraço!

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  2. Sandra estava correta dentro do papel, o que eu acho MUITO POUCO para um Oscar. Também torcia pela Carey, mas eles não iam tirar um Oscar da atriz "bola da vez" para dar a uma inglesa, né? Essa é a Academia...

    Entre Irmãos é excelente, e sinceramente não entendi o porquê da crítica (pelo menos aqui no Rio) ter detonado o filme. Os três atores estão perfeitos e a história é bem encadeada, resultando num filme ainda melhor do que o original da Susanne Bier.

    Abs!

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