quarta-feira, 7 de março de 2012

O Dublê do Diabo


Todos nós já ouvimos falar que alguns ditadores se utilizavam de sósias, não apenas para estar em muitos lugares, mas também como forma de se proteger de atentados. Saddam Hussein não inventou esse truque, foi apenas mais um a se valer dele. O que não costumamos parar para pensar é o seguinte: quem é essa pessoa obrigada a deixar de existir para se tornar a sombra de outra? E vale lembrar que em tais regimes não existe a opção de simplesmente dizer “não, obrigado”. Exibido no último Festival do Rio, o filme O Dublê do Diabo acaba de ser lançado pela Califórnia Filmes diretamente em DVD. O filme conta a história do oficial do exército iraquiano que foi selecionado para se tornar o sósia de Uday Husseim, o filho mais velho de Saddam.

A primeira coisa que é preciso louvar nesse filme é a incrível interpretação de Dominic Cooper como Uday e seu sósia Latif. Quem poderia imaginar que o ator, que não tem absolutamente nada de expressivo no currículo, pudesse ser a escolha ideal? Não apenas ele diferencia muito bem os dois personagens, como também é perfeito quando interpreta Latif imitando Uday, criando desta maneira três níveis diferentes de atuação.

Também é muito interessante o dilema de não apenas se aniquilar para ser outra pessoa, mas de ser a face de alguém abominável. E precisar desempenhar bem tal função, sob pena de tortura. Tudo isso sendo um prisioneiro de luxo, alguém que vive em meio a festas, champanhe e caviar, mas não tem autorização nem para ver a própria família. Também é curioso que, sendo a cópia fiel da imagem do tirano, Latif acabe por, aos poucos, exercer algum poder sobre ele. Afinal, quem destruiria a si próprio? Tal simbiose certamente vai além do interesse político.

Os problemas do filme começam quando a criatura resolve se rebelar contra seu criador. Talvez por ser baseado nos relatos do próprio Latif, o roteiro acaba transformando-o numa espécie de super-herói indestrutível e sem mácula. Algumas sequências, em especial a da sua retirada estratégica da festa de aniversário, parecem tiradas dos filmes de James Bond. Teria algo a ver com o fato do diretor Lee Tamahori ser o mesmo de 007 – Um Novo Dia Para Morrer?

Como se não bastasse, nesse terço final o filme começa a deixar pontas soltas e inúmeras situações mal-explicadas. Como, por exemplo, o personagem estar em fuga em uma cena e na tomada seguinte já aparecer em outro lugar sem que tenhamos nenhuma explicação sobre como foi feita a façanha. Transformar o digno Latif em Rambo – com direito a olhar fatal e aproximação em câmera lenta e tudo – abalou a credibilidade de um filme que caminhava bem até então. Outro ponto fraco da trama é o envolvimento do protagonista com a amante de Uday, mas talvez a personagem Sarrab soe artificial apenas pelo fato de ser pessimamente interpretada por Ludivine Sagnier.

É um pouco difícil cotar esse filme, já que ele tem desníveis enormes em seus quesitos. Analisando a validade do tema e a surpreendentemente boa atuação de Dominic Cooper, era caso para aplaudi-lo entusiasticamente; já considerando o filme em si... nem tanto.Na média geral, certamente vale uma conferida.

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