sábado, 13 de junho de 2009

Apenas o Fim


“- Você era feliz comigo?
- Não... Mas não é culpa tua.”

São diálogos como o acima – simples, diretos e muitíssimo bem escritos – que dão sustento a este impressionante filme de estréia do estudante de cinema da PUC Matheus Souza. O longa, que se passa praticamente em tempo real, foi filmado na própria PUC. A trama não poderia ser mais básica: numa manhã como outra qualquer, Tom encontra a namorada na faculdade, ela lhe diz que está decidida a ir embora para sempre e que eles tem apenas uma hora para passar juntos. Correndo contra o ultimato da garota que ama, Tom tenta convencê-la a ficar ao mesmo tempo em que ambos fazem um balanço bem-humorado de como tem sido o relacionamento até então.

Exibido no Festival do Rio de 2008, o filme foi responsável por uma das mais calorosas acolhidas por parte do público a um longa nacional e recebeu uma menção honrosa do júri oficial. Logo após, foi eleito melhor filme pelo júri popular na Mostra de São Paulo. O segredo do sucesso desta produção simpática e de baixo orçamento está não apenas no frescor com que o diretor e roteirista de apenas 20 anos recheia sua história, mas também na grande carência de produtos nacionais similares. Em sua preocupação em provar ao mundo que é sério, politizado e profundo, o cinema brasileiro tende a negligenciar qualquer temática que não gire em torno das mazelas sociais.

Apenas o Fim aproxima-se bastante do estilo de cinema feito por Domingos de Oliveira, embora a linguagem e a abordagem próprias da geração que cresceu plugada no MSN e no Orkut acabem por torná-lo um produto final totalmente diferente. O modo como os protagonistas se relacionam e falam sobre os mais variados temas também lembra bastante a dobradinha Antes do Amanhecer e Antes do Pôr do Sol, especialmente a movimentação deste último. Mas o bom é que, mesmo sendo referencial sob vários aspectos, Apenas o Fim é originalíssimo em suas intenções, em seus diálogos repletos de deliciosas referências à cultura pop e também por trazer para a faixa da pós adolescência uma discussão que costuma ser atribuída a personagens mais velhos.

Com a câmera seguindo os dois atores durante um longo passeio, a ação presente é sabiamente entrecortada por flashes do passado. O recurso faz com que a angústia que eles vivem – em especial Tom, que não entende bem o que se passa – seja contrabalançada por conversas leves, meigas e divertidas que fazem excelente contraponto dramatúrgico. Outro destaque fica por conta de algumas raras e engraçadíssimas interrupções que o casal sofre em sua conversa, sendo a mais hilária delas a do amigo totalmente “sem noção” interpretado por Álamo Facó.

Apenas o Fim, por falar a linguagem dos jovens, acaba sendo um filme do qual perdoa-se tudo. Não que haja muito o que perdoar, não me entendam mal. Mas algumas coisinhas que poderiam soar pouco convincentes em personagens adultos como, por exemplo, o fato da menina decidir a troco de nada sumir no mundo, aqui ganha verdade cênica. Pelo menos, a verdade de uma adolescente que acha que vai de fato fazer aquilo. É a certeza incauta de uma época em que todos se acreditam especiais, diferentes, donos do mundo.


Os fofos Gregório Duvivier e Erika Mader são, sob todos os aspectos, representações perfeitas dos personagens e também do mito dos opostos que se atraem. Ele é cheio de manias, neuroses, carências e tem uma visão mais conservadora sobre o amor e os relacionamentos. Ela é espevitada, cheia de planos e insatisfações, tem sede de aventura, busca uma nova forma de viver. Como eles dizem um ao outro o tempo todo, que o fim chegaria é inevitável. Mas sempre dói, para quem parte e para quem fica.

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