Claudio Torres dirigiu seu primeiro longa-metragem solo em 2004 (antes disso, havia dirigido o segmento Diabólica do filme em episódios Traição), o originalíssimo e não muito visto Redentor. E que estréia promissora! Partindo de um roteiro inteligente e crítico, Torres realizou uma pérola sombria, surrealista e, sobretudo, isenta de concessões. Então não foi surpresa que tão logo a produção deste A Mulher Invisível foi anunciada, já se começou a criar uma forte expectativa a respeito do longa. O problema é que, há alguns meses, o espectador foi surpreendido por outro filme do irmão de Fernanda Torres, desta vez o desnecessário A Mulher do Meu Amigo. O que teria acontecido com o arrojado cineasta, para assinar aquela coletânea de situações rasteiras e piadas de gosto duvidoso? Não se sabe, mas felizmente Claudio desfaz qualquer má impressão anterior com este filme simplesmente delicioso que é A Mulher Invisível.
O longa conta a história de Pedro, um controlador de tráfego certinho e romântico que, mesmo depois de seis anos de casamento, ainda chega em casa com flores e arroubos de carinho para a esposa. Justamente por oferecer tanta segurança, acaba abandonado por ela. Após vários meses deprimido e trancado em casa, Pedro sai do isolamento quando uma bela mulher bate à sua porta pedindo uma xícara de açúcar. Ela se apresenta como Amanda, sua nova vizinha, e logo de cara demonstra ser a mulher perfeita: apaixonada, carinhosa, inteligente, liberal, e ainda por cima entende tudo de futebol. O único problema é que Amanda só existe na mente de Pedro. O irônico é que Pedro se enamora por uma alucinação, mas não enxerga Vitória, a vizinha de carne e osso que o ama e nunca teve coragem de se aproximar.
A comédia romântica, um dos grandes filões do cinema americano, não costuma ter bons exemplares em nosso cinema nacional. Ou a coisa descamba para o pastelão ou acaba ficando açucarada demais. Poucos filmes conjugam o equilíbrio e leveza deste A Mulher Invisível, e grande parte do segredo do sucesso está no timing perfeito de Selton Mello. Ao mesmo tempo em que o ator é hilário na porção cômica do longa – a cena dele dançando sozinho na discoteca é inesquecível –, também consegue ser profundo e comover o espectador com a dor do seu abandono. E o mais impressionante é que, muitas vezes, Selton transita entre esses dois pólos em questão de segundos. Resumindo, Selton Mello arrasa mais uma vez.
Ponto para o ator e também para a eficiência do roteiro, que sabe dosar gargalhadas com drama e mantém o filme num patamar acima da pura comédia. A despeito de cumprir com louvor a tarefa primordial de fazer rir, o filme tampouco deixa de cuidar do lado sensível da trama. O desespero de Pedro não é uma situação absurda; pelo contrário, qualquer um que já levou um pé na bunda sem esperar é capaz de se solidarizar com o personagem – mesmo não tendo chegado ao extremo de inventar uma cara-metade imaginária. Como bem disse Selton Mello em uma entrevista: “Se você for pensar de um outro ponto de vista é até uma história triste. Um cara que num momento de solidão inventa alguém pra tornar a vida melhor.”
Já a geralmente polêmica Luana Piovani aqui tem função semelhante à que teve em O Homem que Copiava, de Jorge Furtado, e aparece na tela como a personificação dos desejos do protagonista. Funciona. No elenco coadjuvante, Vladimir Brichta está ótimo como Carlos, o melhor amigo de Pedro. Vladimir e Selton, aliás, tem excelente química em cena e transmitem muita verdade como melhores amigos. À Maria Manoella cabe a função complicada de fazer contraponto à mulher ideal e ser a mulher real, o que a atriz consegue com delicadeza e carisma. E por último, mas nem por isso menos importante, é preciso destacar as intervenções divertidíssimas de Fernanda Torres como Lucia, irmã mais velha de Vitória. Com suas tiradas irônicas e precisas, Fernanda transforma cada fala de sua personagem em ouro puro.
Enfim, pode-se dizer que cada integrante do elenco foi muito bem escolhido e só ajuda a abrilhantar o efeito geral de uma equipe nivelada por cima, como podemos notar por algumas pequenas participações marcantes, como o bilheteiro de cinema de Marcelo Adnet e o marido casca-grossa de Thelmo Fernandes. Regendo os talentos individuais, o maestro Claudio Torres mantém os atores no tempo certo e as cenas no ritmo adequado e entrega um filme redondinho, que diverte e enternece em doses iguais. Ótima pedida. Estréia nesta sexta.
Show. Parece ser legal, e eu sei que vou gostar!!!
ResponderExcluirÉrika, ao contrário de você, não gostei nem um pouco de "Redentor". Para mim ele começa bem, mas depois vai se tornando uma loucura. Acho que é por esta impressão que o primeiro trabalho do Claudio Torres me deixou acabei me desinteressando em ver tanto este "A Mulher Invisível" e também "A Mulher do Meu Amigo". Mas eu gostei da premissa e o elenco é formado por um dos melhores intérpretes brasileiros em atividade.
ResponderExcluirBeijos!
É curioso que as pessoas discordam sobre os filmes, mas nunca sobre a capacidade do grande Selton Mello, nosso homem de cinema. Ainda bem que nem toda unanimidade é burra!
ResponderExcluirBeijos, garotos