segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Estranho Mundo de Jack


Responda rápido, sem parar para pensar: quem é o diretor de O Estranho Mundo de Jack? Tim Burton, certo? Errado. Embora o filme seja sempre creditado a ele, seu diretor é um cara chamado Henry Selick – o mesmo de Coraline e o Mundo Secreto. Mas tal equívoco é facilmente explicável, já que tanto o cartaz do filme como a capa do DVD duplo lançado recentemente trazem o nome de Tim Burton estampado em letras garrafais. Burton é, oficialmente, o produtor e criador dos personagens. A questão é que poucos longas são tão escancaradamente burtonianos como esse, a começar pela característica trilha sonora de Danny Elfman.

No universo do filme, cada uma das festas é comandada por uma cidade e seus habitantes. Na cidade do Halloween, os moradores são monstros, vampiros e bruxas que trabalham durante o ano inteiro para que a noite em questão seja o mais assustadora possível. Dentre tantas criaturas horrendas, Jack Skelleton é o rei. Venerado por todos, é chamado de o rei da abóbora. Mas está infeliz com a rotina. Como um barracão de escola de samba sinistro, mal se passa um Halloween e todos já começam a planejar o próximo. Jack anseia por algo diferente.

Jack sai andando sem rumo por uma floresta, até que chega num local onde algumas árvores tem sinalizações estranhas como “Natal” e “Páscoa”. Jack entra numa passagem na árvore do Natal e descobre-se na cidade de Papai Noel. Fica maravilhado com as luzes, a neve, os presentes coloridos, a roupa vermelha. Acha tudo tão incrível que decide que esse ano eles devem assumir o Natal também. Para tanto, basta que se livrem de um pequeno inconveniente: Papai Noel.


A partir daí, com Papai Noel sequestrado e monstros encarregados de distribuir presentes, já dá para imaginar a confusão que se forma. Isso é o mais interessante na concepção da trama, que faz com que os personagens reajam dentro dos seus parâmetros. Jack se apaixona pela ideia do Natal, mas a compreende dentro de seu próprio universo de sustos e travessuras. Para ele, é natural dar a crianças presentes que tentam atacá-las.


Uma personagem que não se pode deixar de citar é a boneca de pano Sally, par romântico de Jack. Criada por um cientista doido num esquema meio Frankenstein, a mocinha que se descostura quando quer fugir de alguma encrenca representa o único sopro de meiguice e bom senso naquela terra de lunáticos. Sally lembra bastante Edward Mãos de Tesoura, que havia sido realizado alguns anos antes, e também outra personagem que Burton criaria mais de uma década depois, a Noiva-Cadáver.

O Estranho Mundo de Jack, cujo ótimo e mais do que apropriado título original A Nightmare Before Christmas (um pesadelo antes do Natal) infelizmente se perdeu na tradução, é sobretudo um dos poucos filmes que falam de Natal sem cair na pieguice que a data costuma inspirar. É tocante sem ser brega, cativante sem ser apelativo. Um clássico eterno.

O DVD duplo lançado há pouco traz uma série de extras no disco 2, como cenas deletadas, making of e storyboards. Mas a boa surpresa é a inclusão de dois curtas de Tim Burton: Vincent e Frankenweenie – este último está em vias de ganhar uma versão em longa-metragem. Vincent, de 1982, é uma animação em estilo expressionista sobre um garoto de sete anos que vive num mundo gótico imaginário e sonha ser Vincent Price, com direito a citações do Corvo de Edgar Allan Poe e narração do próprio Price. Frankenweenie, de 1984, é um live action fofíssimo sobre um garoto muito bom em ciências que ressuscita seu cãozinho que fora atropelado. O filme é, na verdade, uma versão da história de Frankenstein ambientada nos anos 50, com direito a perseguição no moinho e tudo. Muito bacana mesmo.

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