sábado, 6 de junho de 2009

Duplicidade


Tony Gilroy, roteirista da trilogia Bourne, teve grande destaque no ano passado por conta do bom (porém superestimado) Conduta de Risco. Evidenciando cada vez mais uma queda pelas intrigas internacionais, Gilroy assina agora a comédia romântica de espionagem Duplicidade. No filme, uma verdadeira guerra fria entre duas mega-corporações é prato cheio para que os charmosos espiões interpretados por Clive Owen e Julia Roberts se envolvam em um jogo no qual é missão quase impossível determinar quem está enganando quem. Como fator complicador, a ex-agente da CIA Claire Stenwick e o ex-agente do MI6 Ray Koval ainda tem que lidar com um conturbado caso de amor que torna ainda mais difuso os limites de conceitos como honestidade e confiança.

Julia Roberts e Clive Owen em cena tem uma química monstruosa e transformam cada diálogo num duelo de personalidades, o que faz com que o filme resgate a tradição de grandes duplas da sétima arte – a exemplo de Spencer Tracy e Katharine Hepburn. Também não resta dúvida de que Duplicidade é um filme estiloso, cheio de cenários encantadores e sequências deliciosas. Um exemplo é o modo como conhecemos os personagens, através de uma série de flashbacks divertidos que fazem um painel de sua relação desde o primeiro encontro em 2003 até o grande golpe nos dias atuais.

Ainda assim, fica-se com a impressão de que todos esses recursos nada mais são senão perfumaria para esconder o fato de que não há uma trama satisfatória. O roteiro peca pela falta de verossimilhança e pelo excesso de reviravoltas – algumas pessimamente amarradas –, que se configuram mais como uma compulsão por mudanças do que uma real necessidade dramatúrgica. Depois do terceiro “não sei quanto tempo antes”, a coisa realmente começa a ficar cansativa. Podemos dizer que Duplicidade é como um bonito embrulho que esconde um presente banal: você se encanta a princípio, mas, passada a euforia de desembrulhá-lo, não sobra algo que valha a pena guardar.

2 comentários:

  1. Gosto muito de Conduta de Risco, mas aqui Tony Gilroy (ao escalar Julia Roberts como um dos protagonistas) fez o favor de espantar esse humilde espectador. Além do quê, não curto essa mistura espionagem com tons de comédia romântica. Ou faz um, ou faz outro. Quem sabe no DVD role! No cinema acho um pouco demais.

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  2. Roberto,

    Eu também não sou exatamente uma apreciadora de Julia Roberts, mas, curiosamente, a moça é um dos acertos do filme. Ela e o Clive Owen funcionam muito bem juntos. O problema é o resto.

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