quinta-feira, 11 de junho de 2009

Intrigas de Estado


Uma ficção com cara de realidade, assim é o bom e vibrante Intrigas de Estado. É impossível ver as cenas que se passam na redação do fictício jornal Washington Globe e não se lembrar do Washington Post, o célebre veículo que revelou em primeira mão o escândalo de Watergate. Este é apenas um pequeno exemplo das muitas associações que esse filme fictício nos leva a fazer com a vida real.

O congressista americano Stephen Collins era a estrela de seu partido até que sua assistente morre num acidente mal-explicado e vem à tona seu envolvimento amoroso com ela. Cal McAffrey, repórter veterano em Washington e amigo de longa data de Collins, fica numa saia-justa quando sua editora, a implacável Cameron Lynne, coloca a novata e ambiciosa Della Frye para cobrir o caso. Cal acaba se envolvendo na matéria não apenas para elucidar a verdade, mas também porque acredita que o amigo está sendo vítima de uma conspiração para desacreditá-lo publicamente e, assim, beneficiar uma mega corporação que vinha sendo investigada por ele.

A partir de um roteiro inteligente e com todas as suas reviravoltas muito bem amarradinhas, o longa discute temas muito em pauta na atualidade, como as polêmicas envolvendo os departamentos de segurança e as possíveis segundas intenções de cada decisão estratégica tomada em nome da nação. Outro foco interessante está no fato dos jornais hoje em dia pertencerem a grandes corporações midiáticas, o que nem sempre permite que seus editores coloquem o compromisso com a verdade acima de todos os outros interesses. No meio de tudo isso, Cal está atado a laços não apenas de amizade mas também de culpa perante Stephen Collins – o que só torna seus dilemas ainda mais interessantes. Mas, segundo sua editora, “jornalistas não tem amigos, apenas fontes”. E ele ainda tem que administrar a energia da novata Della, que representa a divisão on line do veículo e, portanto, uma nova forma de fazer jornalismo.

O roteiro do longa, que tem como um dos autores Tony Gilroy (de Conduta de Risco), é baseado numa série homônima exibida pela BBC. O filme, que dizem ser bastante fiel a seu produto de origem, é corajoso pela abordagem a assuntos explosivos como a promiscuidade entre a política e o jornalismo, mas também apresenta um ótimo desenvolvimento dos personagens que, longe de serem apenas joguetes atropelados pelos acontecimentos, tem importância individual em suas decisões e sabem que cada escolha feita por eles tem sérias consequências.


O elenco liderado por Russell Crowe é homogêneo e afinado, o que faz com que até atores de atuações irregulares como Rachel McAdams e Ben Affleck apareçam seguros e maduros em cena. Mas o maior destaque fica por conta da pequena e impressionante participação de Jason Bateman, que rouba a cena. Esquecendo-se o fato de parecer assustadoramente verossímil, Intrigas de Estado ainda é bom cinema. Suas duas horas de duração passam ligeiro, graças ao ritmo acelerado e à tensão dramática injetada com competência por Kevin MacDonald, diretor do igualmente eficiente O Último Rei da Escócia.

Resumindo, Intrigas de Estado é um filme que definitivamente vale o ingresso. Sempre lembrando que nada daquilo é verdade... mas poderia ser. Estréia amanhã.

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