quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Nine


Rob Marshall deve ser eternamente grato a Baz Luhrmann. Afinal de contas, foi graças ao cineasta australiano que Marshall teve seu filme Chicago coroado de glórias no Oscar 2002. Tudo porque a Academia adora se desculpar, ainda que indiretamente. No ano anterior, o fantástico Moulin Rouge havia conseguido a façanha quase impossível de revitalizar o gênero musical. Pena que depois de conquistar o mundo, o filme de Luhrmann tenha fracassado no teste derradeiro e perdido o Oscar de melhor filme para o insosso Uma Mente Brilhante. O público não gostou, e no ano seguinte o pedido de desculpas veio com a premiação de Chicago – que, embora seja um bom filme, está vários degraus abaixo de Moulin Rouge.

A maior conseqüência disso foi que Rob Marshall passou a se considerar um diretor de peso e, três anos depois, realizou o pretensioso (e bem fraquinho) Memórias de uma Gueixa. Agora, foi a vez de mexer com o clássico Fellini 8 ½ e a coisa ficou esquisita. Eu nem acho que este Nine seja “zero”, conforme classificou a crítica americana, mas o sentimento de decepção é inevitável. É bem verdade que Nine, o espetáculo da Broadway, foi bastante elogiado em sua ambiciosa transposição para os palcos do universo lírico do longa mais autobiográfico de Fellini. Mas creio que um dos motivos para que a peça tenha sido bem-sucedida deve ter sido justamente o fato de se destinar a um meio diferente da obra original. Trazê-la de volta para a telona foi um erro, já que apenas gera comparações com 8 ½, nas quais o filme de Rob Marshall sai perdendo.

A trama gravita em torno do cineasta italiano Guido Contini, um homem em crise profissional e pessoal. Guido sente-se pressionado pela imprensa, ávida por criticá-lo, mas também por sua própria equipe, já que ele não consegue escrever uma linha sequer do roteiro de sua próxima produção e as filmagens estão previstas para começar dentro de poucos dias. Mais do que tudo, Guido está dividido entre sentimentos conflitantes pelas mulheres que estão à sua volta: Luisa, a dedicada esposa; Carla, a amante temperamental; Claudia, a exigente estrela de seus filmes; Lilli, a amiga e colega de trabalho; além da lembrança da mãe e de outras presenças femininas que marcaram sua vida.

A primeira coisa a desanimar em Nine é a qualidade duvidosa das músicas, que parecem sempre engessadas e repetitivas. Está certo que o próprio Chicago já não empolgava muito pelas canções, mas pelo menos as letras eram mais inteligentes e contribuíam para a narração da história. Já as de Nine não passam de umas bobagens exaltando a sedução e charme dos italianos. E isso faz com os números musicais não alcancem o efeito desejado – pelo menos, nesta versão para o cinema. Uma pena, porque os figurinos de Colleen Atwood são bacanas, a direção de arte é interessante e os números são bem coreografados.


A seu favor, Nine tem as interpretações afinadas de Daniel Day-Lewis e Marion Cotillard. Day-Lewis deu cabo da estranha tarefa de se transformar em italiano, embora lhe falte o tempero latino de um Mastroianni. Mas é Marion quem realmente brilha como a esposa resignada que abandonou a carreira em prol do marido egocêntrico e, anos depois, se pergunta se terá valido a pena. Sua atuação é, de fato, luminosa e merecedora de todos os elogios. Já as estrelas Penélope Cruz e Nicole Kidman, apesar de estarem deslumbrantes em cena, de certa forma decepcionam. Culpa, talvez, da abordagem rasa que a trama faz de suas personagens.

O resultado final é uma produção com qualidades e deficiências em igual quantidade. Longe de merecer um Nine, o filme está mais para Five. No máximo, Six. Estreia nesta sexta.

2 comentários:

  1. Ok, a trilha é bacana, mas o filme é de uma chatice absurda. Day-Lewis, no entanto, põe um pouquinho de sal nessa mistura sem tempero. Mas é aquela história, se tiver que ser este o filme que fará jovens cinéfilos conhecerem Fellini, então torna-se um filme obrigatório.

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  2. Pois eu acho que é justamente a trilha o pior de tudo. As músicas são bobas, não empolgam. E tampouco o filme serve de introdução para alguém conhecer a obra de Fellini. Achei válido a ideia de transformar o filme num musical e levá-lo ao teatro. Já trazer de volta ao cinema foi dispensável.

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