terça-feira, 19 de novembro de 2013

Blue Jasmine


Depois de ter rodado seus últimos três filmes na Europa (Roma, Paris e Londres), Woody Allen mais uma vez volta a filmar nos Estados Unidos. Dessa vez ele divide as atenções entre sua amada Nova Iorque e San Francisco, e isso não é por acaso. O contraste entre a cosmopolita big applee a ensolarada cidade californiana serve de mote para também delinear dois estilos de vida antagônicos que soltam faíscas quando postos lado a lado. Nova Iorque representa o luxo, sofisticação, mas também a solidão e desequilíbrio da personagem-título; já San Francisco é a descontração simples e saudável de sua irmã Ginger.

Jasmine – que nasceu Jeanette – conseguiu tudo o que queria na vida e um pouco mais. Mesmo tendo sido criada em um lar adotivo e nunca tendo possuído aptidão profissional alguma, seus sonhos mais extravagantes se materializaram quando ela se casou com o rico e sofisticado Hal. Mas o conto de fadas não teve “felizes para sempre” e sua rotina de grandes festas, roupas de grife, viagens e joias implodiu quando Hal foi preso e, diante das acusações de fraudes financeiras, tudo que eles possuíam foi confiscado pelo governo. Falida e com os nervos em frangalhos, Jasmine é obrigada a deixar Nova Iorque e migrar para San Francisco para viver de favor na casa da irmã de quem sempre desdenhou.


Muitas comparações têm sido feitas entre esta trama e a do clássico Um Bonde Chamado Desejo. Semelhanças existem, é claro, mas o olhar de Woody Allen é sempre tão pessoal e contemporâneo que a correlação com Tennessee Williams parece ter sido mais um ponto de partida do que uma releitura propriamente dita. Blue Jasmine faz uma crítica bastante pesada ao universo das pessoas ricas e seus joguinhos de aparências, mas é igualmente ferino ao retratar os personagens mais simples e seus modos invasivos. No final das contas, o que parece fazer toda a diferença é uma questão de equilíbrio interno: Jasmine não descompensou emocionalmente devido à falência. Ao longo do filme fica claro que, mesmo em seus dias de riqueza e glamour, sua postura diante da vida nunca foi tranquila, enquanto Ginger é feliz com pouco – pecado mortal aos olhos implacáveis da irmã.


Woody Allen é conhecido por sempre oferecer grandes oportunidades a seus atores. Que o diga Mira Sorvino, que depois de trabalhar com ele em Poderosa Afrodite conseguiu não somente um Oscar como também o único papel substancial de sua carreira. Mais recentemente, foi a vez de Penélope Cruz levar a estatueta dourada sob a direção de Allen em Vicky Cristina Barcelona. Em 2014, vai ser muito difícil alguém arrancar o Oscar das mãos de Cate Blanchett. Mérito em parte do roteiro perfeito, mas também uma justa coroação à carreira de uma atriz que nunca está menos do que impecável em cena. Neste papel, Cate realiza a missão quase impossível de atrair empatia para uma personagem egocêntrica, esnobe e desagradável.

A estrutura do roteiro, que alterna o momento presente com situações anteriores, é muito dinâmica e eficaz. Quando a última (e surpreendente) informação sobre a derrocada da protagonista vem à tona, pequenos detalhes que até então poderíamos considerar exagero na trama ou na interpretação de Cate ganham uma dimensão mais trágica e, consequentemente, mais humana.


Blue Jasmine é a feliz reunião de um cineasta e uma atriz em estado de graça e, com isso, quem ganha é o espectador. O filme estreou na última sexta sem exibição prévia para a imprensa, ao menos aqui no Rio de Janeiro. A justificativa da distribuidora foi a de que o filme já havia sido exibido durante o Festival do Rio. 

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