sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O Mordomo da Casa Branca


O filme conta a história fictícia de Cecil Gaines, um jovem negro que foi criado no sul dos Estados Unidos, onde vivia em condições ainda semelhantes às da escravidão em plena década de 20. Ao ser tornar adulto, Cecil vai para o norte em busca de uma vida melhor e sua criação como “preto de casa” (assim era chamado pela dona da fazenda) lhe permite arrumar um emprego em um hotel de luxo, onde seus modos refinados chamam a atenção do responsável pelas contratações na Casa Branca, sendo, desse modo, recrutado como mordomo, função que desempenha por quase trinta anos. Sua posição de estar ao lado do homem mais poderoso do mundo e, ao mesmo tempo, ser invisível lhe permite testemunhar os bastidores do poder.

Não há dúvida de que Lee Daniels (de Preciosa) tem muitas ambições para este filme. A começar pelo pretensioso título original, Lee Daniels’ The Butler. Ora, um cineasta só deveria antepor seu próprio nome ao título do filme caso seja muito consagrado ou já possua um estilo muito marcante e Daniels não se encaixa em nenhuma das duas situações. Sem contar que as questões sociais, raciais e políticas poderiam ter sido exploradas de modo menos panfletário e maniqueísta. Desde o princípio, fica evidente qual é a correlação que o filme tenta estabelecer: um paralelo entre o homem negro que passou a vida servindo presidentes brancos e o primeiro negro a ser eleito para o cargo mais importante do mundo. Também incomoda que o roteiro que tente vender como herói um personagem que passou a vida sendo subserviente, a ponto de se descuidar da própria família para melhor desempenhar essa função.

As interpretações de Forest Whitaker e Oprah Winfrey são boas e o filme conta com um elenco coadjuvante estelar, além da curiosidade de ver atores famosos como ex-presidentes, tais como Robin Williams (Eisenhower), Liev Schreiber (Lyndon Johnson), John Cusack (Nixon), James Marsden (John Kennedy), e Alan Rickman e Jane Fonda como o casal Reagan. Mas o capricho da produção não consegue mascarar os tropeços do filme, sejam eles de dramaturgia ou de ritmo. O longa tem 132 minutos, duração injustificável se considerarmos que na sua segunda metade pouca coisa de relevante acontece e as cenas começam a seguir o caminho da obviedade, além do protagonista sofrer uma mudança de personalidade não muito bem delineada. Além do mais, as sequências começam a ser cada vez mais sublinhadas por uma trilha sonora irritante e grandiloquente.

Lee Daniels deixa claro que está visando novas indicações ao Oscar e tenta realizar um longa com “a cara da Academia”, como se fosse uma mera questão de juntar certos ingredientes para obter um resultado satisfatório. Pode ser até que ele consiga, afinal de contas com a Academia nunca se sabe, mas esse filme só vem confirmar o que já havíamos visto nos seus trabalhos anteriores: a sua extrema inabilidade como cineasta.

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