domingo, 24 de novembro de 2013

Prof! Profa!


O público carioca tem mais quatro semanas para conferir a talentosa Jandira Martini neste provocador monólogo que estreou na noite de ontem sob os mais calorosos aplausos. A peça, que vem de uma festejada temporada em São Paulo, agora faz uma curta passagem pelo CCBB do Rio. Nela, Jandira é uma ex-professora de literatura que cometeu um crime terrível e sua pena, além da prisão, é subir no palco e reviver sua história diante dos espectadores, dessa forma transformando as pessoas na plateia em confidentes. O texto original é do dramaturgo belga Jean-Pierre Dopagne, que foi por muitos anos professor da Universidade de Bruxelas e, portanto, também traz sua experiência como docente para a história.

O texto retrata com muito sarcasmo e acidez o inferno diário vivido pelos educadores que realmente tentam passar adiante seu conhecimento, em contraste com aqueles que simplesmente cumprem seu horário e deixam os alunos em “ponto morto”. Mas será que vale a pena travar uma batalha perdida contra jovens que não estão interessados em adquirir tal conhecimento? E qual é o custo emocional disso? Temas como choque de gerações e um sistema educacional em crescente empobrecimento são apenas algumas das questões apontadas.

Outra correlação interessante e bastante oportuna é a que se faz entre a sala de aula e o teatro. Ao colocar o espectador presente no espaço no mesmo lugar do aluno passivo, o texto arranca o tema do universo escolar e o leva não somente para o campo da arte, mas para a chamada vida adulta de um modo geral. Com falas provocadoras como “as pessoas que vêm ao teatro pagam para ouvir e ficar caladas”, a discussão se amplia para a tendência do ser humano ao comodismo e à resignação.


A encenação proposta por Dopagne e executada por Celso Nunes é bastante despojada: a atriz se apresenta em um palco quase nu – com exceção de uma mesa, uma cadeira e um cabideiro – e totalmente vestida de preto, tendo uma maleta como único adereço cênico. Uma concepção que faz eco ao conceito de “teatro pobre” proposto por Grotowski, mas também remete à essencialidade da clausura – seja religiosa ou penitenciária. Toda a atenção, portanto, se concentra no texto e na excelente interpretação de Jandira, que domina completamente o palco e tem os espectadores cativos durante os 60 minutos de duração do espetáculo. Talvez justamente por isso pareçam desnecessárias as intervenções que ocorrem através de vozes gravadas. Teria sido mais condizente com a proposta cênica que havia sido adotada até então que a própria Jandira se encarregasse destas passagens, mesmo porque a atriz já havia estabelecido intimidade com a plateia e assumido o papel de narrador brechtiano.

De todo modo, Prof! Profa! é um monólogo extremamente pertinente e que resgata o melhor do jogo de cena e da catarse que são próprias do universo teatral, além do atrativo extra de contar com uma atriz que domina perfeitamente seu ofício. Jandira pode até não ter se tornado professora (ou melhor, profa), mas também ela dá aula quando o assunto é representação.

Serviço:
CCBB – Teatro I, às 19h
De 23 de novembro a 2 de dezembro de sábado a segunda
De 5 a 22 de dezembro de quinta a domingo
Ingressos: R$ 10,00

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