quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Um Time Show de Bola


Os filmes de animação muitas vezes são vistos como algo menor em termos de cinema ou exclusivamente destinado ao público infantil, o que é um tremendo preconceito. Um Time Show de Bola é coisa de gente grande e merece lugar de honra na programação de qualquer cinéfilo.

Amadeu é um romântico, apaixonado por Laura e por futebol. Apesar de ser um craque no pebolim, tem pouco foco para as questões práticas da vida. Sua vidinha pacata sofrerá um baque quando Colosso, antigo desafeto da infância que se tornou o jogador de futebol mais famoso e rico do mundo, retorna à cidadezinha onde foram criados disposto a se vingar de tudo e todos por causa da única derrota que sofreu na vida: uma partida de pebolim. O que Colosso não sabe é que Amadeo contará com o reforço dos craques de metal, que ganham vida para ajudá-lo a salvar a cidade e ganhar de vez o coração de Laura.

Como não se divertir com os bonecos de pebolim que ganham não somente vida, mas um tremendo ego, e reproduzem os cacoetes que vemos em atletas de carne e osso? Desde o jogador vaidoso que fala de si mesmo na terceira pessoa até o que se acha filósofo e dispara frases de efeito o tempo todo, o roteiro entrega diálogos deliciosos, que, além de engraçados, ainda têm um refinado senso crítico que não poupa ninguém e ironiza patrocinadores, grandes corporações e interesses escusos que, muitas vezes, se sobrepõem ao chamado espírito esportivo.


Com um traço charmoso e que prima por pequenos detalhes, o longa traduz em imagens muito do espírito portenho e ainda remete um pouco à estética das animações francesas – como A Pequena Loja dos Suicídios, para ficar em um exemplo recente. O filme apresenta um 3D bacana, mas nem precisava. O grande atrativo de Um Time Show de Bola está mais no modo como a história nos faz torcer por aquele adorável grupo de pernas-de-pau, ao mesclar com maestria a paixão e o arrebatamento causados pelo futebol (algo que nós compartilhamos com os argentinos) a uma clássica história de Davi contra Golias.

Também é um alívio ver que o diretor Juan José Campanella não perdeu a cabeça depois de ganhar um Oscar (por O Segredo dos Seus Olhos, em 2010). O A&S teve oportunidade de entrevistá-lo no Festival do Rio de 2009 (leiam aqui) e, na ocasião, Campanella pareceu uma pessoa sensata e tranquila. Impressão que se confirma agora, ao vê-lo colocar toda a alma nesse singelo projeto. Os que acompanham sua filmografia poderão inclusive perceber algumas referências, como uma visão do estádio parecida com a sequência de O Segredo dos Seus Olhos ou a semelhança entre o afeto e nostalgia que os moradores sentem pelo bar ao demonstrado pelos personagens de O Clube da Lua.

Só é uma pena que as cópias que serão exibidas em nossos cinemas sejam todas dubladas em português, ainda mais considerando que o próprio Campanella empresta sua voz a alguns personagens. Mesmo devendo o som original, Um Time Show de Bola é um dos filmes mais simpáticos do ano.

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