quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Capitão Phillips


O roteiro de Capitão Phillips é baseado em um acontecimento verídico ocorrido em 2009: a captura do navio de carga americano Maersk Alabama por piratas quando a embarcação navegava pela costa da Somália. Mesmo bem armados, os somalis se veem em uma situação desfavorável quando são surpreendidos pela tripulação e resolvem bater em retirada, mas levam consigo o Capitão Richard Phillips como refém. Enquanto as autoridades americanas decidem como lidar com a situação, o filme se concentra no dilema psicológico entre Phillips e Muse, o chefe do bando.

O longa impressiona pelo modo como consegue manter sempre bastante alto o nível de tensão, embora a trama seja mais interessante até a entrada em cena dos militares. Se antes o embate entre os personagens era instigante, a partir desse ponto a história descamba um pouco para o filme de ação normal. A presença dos militares também traz o sempre desagradável discurso americano do “não negociamos com terroristas”, que não hesita em sacrificar seus cidadãos em nome de manter certos ideais – mas isso não chega a ser um problema do filme em si.


O que certamente poderia ter sido evitado é uma série de situações-clichê, como, por exemplo, a cartinha que Phillips tenta escrever à esposa quando pressente que pode estar prestes a ser sacrificado. É o tipo de cena tão lugar-comum que deveria ter sido deixada de lado, mesmo que tenha de fato acontecido. Por outro lado, é bem construída a crítica que mostra o quanto os funcionários preparados para agir em situações de crise se comportam de modo insensível. Prestem atenção à atitude robótica da médica que aparece uma das cenas finais que, com toda sua eficiência, não percebe que a pessoa à sua frente está emocionalmente devastada.

A presença de Tom Hanks (que parece estar com tudo este ano) como o personagem-título ajuda a dar credibilidade à história, afinal de contas Hanks é um ator que sempre dá peso a um filme. A grata surpresa fica por conta do somali Barkhad Adbi, o ator estreante que interpreta Muse. Adbi demonstra desenvoltura no papel e não se intimida de contracenar com um dos maiores astros do cinema. Todos os atores e não-atores, aliás, são muito adequados e passam bem a sensação de realidade, a começar pelas cenas iniciais que mostram a rotina de trabalho dentro do navio. 


O cineasta britânico Paul Greengrass vem dividindo sua carreira entre produções cultuadas como Domingo Sangrento e Voo United 93 e longas mais comerciais como Zona Verde e os dois da franquia Bourne que dirigiu (a Supremacia e o Ultimato). Em Capitão Phillips, mesmo escorregando em alguns clichês, Greengrass encontra um bom equilíbrio entre o cult e o pipoca e realiza um thriller bastante eficiente. 

Uma curiosidade: a produção dinamarquesa Sequestro (Kapringen), realizada um ano antes de Capitão Phillips e ainda inédita por aqui, conta uma história praticamente igual.

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