quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Encarnação do Demônio

Eu demorei para comentar esse filme. Não que tenha visto somente agora; pelo contrário, assisti a Encarnação do Demônio no dia de sua estréia, há duas exatas semanas. Mas minha reticência em falar a respeito do filme não tem nada a ver com superstição e sim com um certo desânimo em ser a voz dissonante na multidão. Porque, aparentemente, eu sou a única pessoa que não achou o longa no mínimo genial. Minha atitude em relação ao cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, é bastante neutra. Certamente não sou uma fã, mas acho que é preciso respeitar o único cara que se dispõe a fazer cinema de terror no Brasil. E, ainda por cima, sem patrocínio. Seus filmes anteriores, À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967), têm personalidade e até um certo charme. E vale lembrar que o cara tem fã até nos States (por lá, ele é o Coffin Joe). Portanto, estava bastante curiosa para ver como Mojica se sairia com esse terceiro filme – quarenta anos depois e, desta vez, com um orçamento mais substancial.

O longa começa muito bem. Luís Melo, numa pequena participação, encarna (sem trocadilho) um delegado que acaba de receber a ordem de soltura para Zé do Caixão e está morrendo de medo de ir lá soltar o homem. Essa primeira seqüência é, sem dúvida, instigante. Depois de quarenta anos atrás das grades, Zé não tem tempo a perder: logo convoca seu fiel ajudante Bruno e seus seguidores a ajudá-lo na sua eterna procura pela mulher perfeita que lhe dará o filho perfeito. Podemos dizer que a trama é um prolongamento dos filmes anteriores.

Claro que em um filme de terror, ainda mais nesse estilo gore, a história não é tão importante quanto o impacto das cenas. E, uma vez estabelecido o argumento básico, começa o festival de sadismo e tortura. Tem de tudo: mutilação, tortura, escatologia, erotismo e, claro, litros e mais litros de sangue. Gente pendurada pela pele, olhos e bocas sendo costurados, baratas, ratos e mulheres nuas a granel (todas loucas para gerar o filhote de demônio). E ainda temos participações bizarras de Milhem Cortaz como um padre masoquista – estilo frei Silas do Código da Vinci –, Zé Celso Martinez Corrêa como um capeta psicodélico e Jece Valadão, em seu último filme, como um PM vingativo.

Encarnação do Demônio é um filme de terror para um público de estômago mais forte. Algumas cenas fazem a série Jogos Mortais parecer um passeio no parque. Nesse ponto, o orçamento folgado foi bem aproveitado. O filme é muito bem realizado tecnicamente. Por outro lado, não tem o charme de “filme B” de seus antecessores. Impressão reforçada pela decisão (equivocada, na minha opinião) de inserir trechos dos filmes antigos na forma de memórias do protagonista, já que isso torna a comparação evidente. Minha conclusão? Encarnação do Demônio é um filme de horror bem-feito. Ponto. Não tem sentido enxergar vôos artísticos mais elevados.

Ah! Reparem na cena da transa entre Zé e a sobrinha das feiticeiras. É idêntica a uma cena de Coração Satânico.

Um comentário:

  1. Eu esperava mais do filme, não achei de todo dispensável, mas esperava mais. Não gostei dos flashbacks também!

    Abraço!

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