quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Biutiful


O cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu pisou com o pé direito em Hollywood quando seu filme de estreia, o intenso Amores Brutos, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Não ganhou o prêmio, mas atraiu os holofotes para seu trabalho. Tanto que seu longa seguinte, o também ótimo 21 Gramas, já contava com um elenco de peso. Mas no terceiro filme, Babel, a fórmula das histórias paralelas sem cronologia que se entrecruzavam em algum momento já dava sinais de desgaste. Foi nesse ponto que a parceria entre Iñárritu e seu fiel roteirista Guillermo Arriaga se rompeu. Com alfinetadas mútuas rolando na mídia, Arriaga foi estrear como diretor e Iñárritu se aventurou a ser também roteirista em Biutiful. Os dois saíram perdendo, mas aqui falaremos de Iñárritu e seu Biutiful.

A partir de um roteiro mais linear, Biutiful é centrado em Uxbal, um homem em constante rota de colisão. Divorciado de uma mulher bipolar que ele ainda ama, pai em tempo integral, paranormal a contragosto, Uxbal ainda tem na consciência o drama de tirar seu sustento da contravenção. Mais do que um agenciador de imigrantes ilegais, Uxbal se sente responsável por eles e pela miséria na qual vivem. Cuidar deles seria um modo de sentir-se menos culpado? E como lidar com tudo isso e ainda sentir sobre si a sombra da morte e da decadência?

Biutiful é um filme bastante pesado, desagradável de ser assistido mesmo. Todos os personagens parecem condenados a não serem felizes, a viverem no desespero, a apenas sobreviverem enquanto conseguirem. Claro que é um efeito intencional, uma escolha do roteiro, até mesmo para ironizar a beleza presente no título – sim, existe uma explicação para a grafia errada da palavra beautiful –, mas a repressão e o sofrimento são tão excessivos que isso acaba causando um efeito anestésico e periga o espectador abandonar os personagens à própria sorte, porque não há um raio de esperança que o faça torcer para eles. Aquela velha regrinha dos manuais de roteiro, conflito versus esperança, não tem vez aqui. Portanto, concluímos que Arriaga fez falta como roteirista, porque a bela direção de Iñárritu – e ele de fato extrai beleza de tanta escuridão – se dilui na tristeza opressiva da trama e até mesmo na metragem desnecessariamente longa do filme.


Como grande chamariz do filme, temos que destacar a interpretação arrebatadora de Javier Bardem. Aliás, é mais uma atuação impecável de um dos melhores atores da atualidade. Se o homem não for indicado ao Oscar, esta será a segunda injustiça de sua carreira (a primeira foi por Mar Adentro). O filme continua firme e forte na disputa por melhor filme estrangeiro, já que foi selecionado na pré-lista dos nove melhores. O veredicto definitivo sai no dia 25 de janeiro.

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