quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Turista


Em primeiro lugar, é bom esclarecer que O Turista não chega a ser esse desastre sem precedentes que muitos andam alardeando. Talvez tanta má-vontade se deva a alguns fatores externos ao filme em si: a) era esperado mais do diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck (A Vida dos Outros), em sua primeira incursão hollywoodiana; b) sempre esperamos melhores escolhas de Johnny Depp como ator; e, principalmente, c) um filme mediano como esse indicado a três Golden Globes inevitavelmente vai virar piada.

Considerando apenas o filme e tentando não se influenciar por esses fatores, O Turista fica na média dos filmes que misturam romance com thriller de espionagem, e ainda tem o plus de ser emoldurado pelos misteriosos canais de Veneza. Johnny Depp é Frank, um pacato professor americano que vai à Europa tirar férias e esquecer um amor perdido. No trem que o levará a Veneza, uma bela mulher cruza seu caminho e o arrasta para um perigoso jogo de sedução e intrigas. Frank se apaixona por Elise, mesmo sabendo que ela está apenas usando-o como isca para desviar a atenção das autoridades e de perigosos mafiosos do homem que ela ama.

Partindo de um argumento que Hitchcock apreciava muito, o do homem comum arrastado para circunstâncias extraordinárias, o filme se desenvolve em torno dessas duas vertentes: a intriga policial e a sedução amorosa. Quem, exatamente, é Elise e até que ponto ela estaria se aproveitando de Frank? Angelina Jolie faz o que sabe fazer melhor: ser bonita, sexy e arrancar suspiros. Enquanto isso, Johnny Depp parece pouco confortável no papel de homem comum, submisso e tímido. Claro que suas falas tampouco ajudam e a caracterização de seu personagem em alguns momentos beira o ridículo, como na cena em que ele salta de pijama pelos telhados da cidade. Aliás, esse é um dos problemas do filme, sua indecisão entre ser de fato um thriller de espionagem ou apenas uma paródia de um.


A despeito dessa indecisão de gênero, o filme diverte. Seja pelo bom ritmo, seja pelo deslumbrante cenário, O Turista funciona como diversão ligeira sem compromisso. Claro que algumas soluções – em especial o desfecho – não se sustentam uma vez acendidas as luzes da sala de projeção, mas como puro entretenimento o filme não faz feio. O problema foi levar o que deveria ser um filminho leve de verão para o tapete vermelho dos Golden Globes. Pegou mal. Quando os lobistas vão entender que uma indicação não-merecida apenas presta um desserviço ao produto?

Sexta nos cinemas.

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