terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Scott Pilgrim Contra o Mundo


Demorei muito para assistir ao divertidíssimo Scott Pilgrim Contra o Mundo, mas finalmente consegui. Dos ingressos esgotadíssimos em sessões do Festival do Rio até a estreia somente em São Paulo no mês passado, tudo parecia indicar que somente depois, na prateleira da locadora, eu me encontraria com essa deliciosa odisséia nerd. Aliás, as prateleiras de locadoras já tinham sido o destino dos filmes anteriores do cineasta Edgar Wright. Mas eis que, quando tudo parecia perdido, o Estação Botafogo coloca o filme em uma de suas salas.

Scott Pilgrim já passou da adolescência, abandonou a escola e toca guitarra em uma banda de rock que ele mesmo considera “não muito boa”. Tem uma namoradinha menor de idade, leva esporro da irmã mais velha a toda hora e não tem exatamente um objetivo na vida. Mas tudo muda quando ele cai de amores pela descolada Ramona Flowers, uma entregadora de Amazon que é obviamente muita areia para seu caminhãozinho. Estranhamente, Ramona dá uma chance ao rapaz. Mas logo ele descobre que, para ficar com a mocinha, terá que enfrentar uma “liga de sete ex-namorados do mal”. Ex-namorados do mal? Um absurdo, não? É, mas é justamente esse despudor em mergulhar no nonsense que constitui o grande charme do filme.

Com uma linguagem pop, alucinada e altamente referencial, o filme é todo pensado como um videogame. A cada objetivo superado, o protagonista pula de fase. O prêmio final? O coração da garota. E, para isso, o franzino Scott quica, chuta, soca, quase voa pelos ares, vitaminado com os poderes que só um herói de videogame possui. Ganhando pontos extras, aumentando o escore, passando para uma nova fase. É preciso que o espectador entre na brincadeira do videogame, caso contrário periga achar tudo uma palhaçada.


Michael Cera, o supernerd de plantão, encarna Scott Pilgrim com aquele mesmo jeito desengonçado que já era cativante em Juno e um corte de cabelo ainda mais esquisito. A Ramona de Mary Elizabeth Winstead lembra a Clementine de Brilho Eterno de uma mente sem Lembranças não apenas pela mania de trocar constantemente as cores exóticas dos cabelos, mas também pela instabilidade emocional que acaba por transformar ambas as personagens em bad girls involuntárias. Divertido também é Kieran Culkin como o colega de quarto gay de Scott, que vive entregando as besteiras do amigo para a irmã mais velha.

Claro que a brincadeira poderia cansar se o filme se estendesse além da conta, mas a aventura é na medida certa. Com uma edição esperta e uma linguagem visual pra lá de ousada, Scott Pilgrim Contra o Mundo é um sopro de novidade e transgressão no nem sempre criativo cinema americano independente. Vale muito a pena conferir.

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