quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Wicked


A quantidade de musicais exibidos no chamado West End londrino só é comparável à Broadway. Tem desde clássicos como Grease e Os Miseráveis até novidades menos ortodoxas como Shrek, o Musical. Um amigo que esteve há pouco em Nova York tinha me falado maravilhas desse Wicked e, quando eu soube que a peça também estava em Londres, quis aproveitar minha estadia na cidade para vê-la. Em primeiro lugar, por ser um dos poucos musicais cuja trama ainda não foi adaptada para o cinema e nem trazida para os palcos brasileiros. Confesso, ainda, que fiquei atraída pela frase publicitária: “a história não contada sobre as bruxas de Oz”.

Chegando ao imponente Apollo Victoria Theatre, só o palco coberto já chama a atenção. Um mapa enorme cobre toda a sua extensão e, no alto, um gigantesco dragão de asas abertas parece pronto a voar sobre a plateia. Ao longo do espetáculo, o mapa dá lugar a todo tipo de cenário, desde uma sala de aula até a corte de maravilhas do Mágico de Oz. Cenários enormes e complexos entram e saem de cena com rapidez impressionante, enquanto o elenco canta e dança.

Mas falemos da trama. Baseado no livro de Gregory Maguire, Wicked pega como gancho a conhecida história do Mágico de Oz para fazer um retrocesso no tempo e investigar as origens de Elphaba, posteriormente conhecida como “a bruxa malvada do Oeste”. O que a teria levado a se tornar tão malvada (wicked)? Descobrimos que Elphaba e Glinda, a bruxa boa, foram amigas em uma escola de bruxaria (seria Hogwarts?) e que a jovem tímida sempre foi discriminada por sua coloração verde, mas, por outro lado, era protegida da diretora por seu talento inquestionável. Já Glinda era bonita e coquete, mas nem de longe tão talentosa quanto Elphaba.


Elphaba sempre almejou conhecer o poderoso Mágico de Oz e qual não foi sua decepção quando conseguiu realizar seu desejo e descobriu que o ídolo era, na verdade, um sujeito manipulador e um mago medíocre que se aproveitava de jovens como ela para fazer sua fama. Íntegra, Elphaba se recusa a participar da farsa e é perseguida, tornando-se, assim, a bruxa malvada do Oeste que foi derrotada por Dorothy. Já Glinda joga de acordo com as regras e consegue fama, sucesso e o amor do rapaz por quem ambas se apaixonaram. Ou não foi bem assim?

Rachel Tucker e Louise Dearman são as atrizes que atualmente interpretam Elphaba e Glinda e podemos dizer que as duas são a alma do espetáculo. Numa rara produção onde as protagonistas são duas mulheres, as moças são ótimas cantoras e atrizes, criando sempre um contraste equilibrado e interessante entre as personalidades dessas duas amigas tão improváveis.


Cheio de metáforas profundas e inteligentes, o espetáculo encanta não apenas por sua excelência em termos artísticos, mas também pela tocante história. Por trás de toda cor, luzes, música e dança, há uma séria discussão sobre preconceito, imagem pública e sobre o quanto a opinião alheia acaba influenciando a percepção que uma pessoa tem de si própria. Muito interessante também é o pano de fundo escolar, quando os professores animais são proibidos de lecionar e é tirada deles a condição de “humanos”, trancando-os em gaiolas onde eles desaprendem a falar. Qualquer semelhança com a perseguição nazista aos judeus não é mera coincidência.

E tudo isso embalado por canções incríveis, diálogos irônicos e afiados, interpretações tão boas quanto as vozes (nem sempre isso acontece em musicais), cenários majestosos, figurinos impecáveis e efeitos especiais dignos do cinema hollywoodiano. Resumindo, Wicked é um musical para encher os olhos, acarinhar os ouvidos e alimentar o coração, uma raríssima combinação de espetáculo grandioso com conteúdo dramático de primeira classe. Uma das melhores coisas a que eu já assisti, de verdade.


Já existe um boato por aí de que Salma Hayek (que, para quem não sabe, é a produtora por trás do sucesso Ugly Betty) está correndo atrás dos direitos para transformar Wicked em uma minissérie de seis capítulos para a TV. Vamos torcer para que a ideia se concretize e para que o resultado seja digno do incrível espetáculo teatral que o inspirou.


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