sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Um Lugar Qualquer


O trabalho de Sofia Coppola sempre me agradou muito. Embora este seja apenas seu quarto longa-metragem, seu talento como roteirista e domínio narrativo como cineasta parecem pertencer a alguém com muito mais idade e tempo de estrada. Sofia debutou como diretora em 1999 com o perturbador As Virgens Suicidas e apenas quatro anos depois realizou a obra-prima que lhe deu uma indicação ao Oscar de melhor direção: Encontros e Desencontros. Mesmo Maria Antonieta, que é obviamente seu filme mais fraco, possui uma penca de qualidades que não podem ser desprezadas. Com Somewhere – filme que ganhou há pouco o Leão de Ouro no Festival de Veneza – a cineasta se inspira em memórias de sua própria infância para voltar ao tema da incomunicabilidade humana e da estranheza de viver em meio às celebridades.

Logo no início do longa somos apresentados a Johnny Marco, famoso ator de Hollywood. Hóspede residente no hotel Chateau Marmont, Johnny leva uma vida regada a festas, mulheres a granel, carros velozes e strippers que muitas vezes lhe dão mais tédio do que prazer. A mudança nessa rotina ocorre quando Cleo, sua filha de onze anos, precisa passar um tempo com ele por conta de uma crise existencial de sua ex-mulher. Mas Cleo e Johnny, embora sejam pai e filha, são quase dois estranhos.

Com sua visão poética e, ao mesmo tempo, ácida sobre o mundo, Sofia Coppola constrói gradativamente os primeiros passos dessa aproximação, evidenciando a falta de intimidade entre eles através de pequenos detalhes e conversas. Interessante que Johnny tem o nome da filha tatuado no braço, mas desconhece coisas básicas sobre a vida da menina. Ela, por sua vez, é tímida e não sabe o que pensar daquele porra-louca simpático que é seu pai. Há afeto, há respeito, mas não há intimidade. Ao mesmo tempo, percebe-se que os dois tem bastante em comum e que partilham o mesmo desprezo por esse mundo fake de celebridades – Johnny vive nele, mas sempre passando a impressão de ser um peixe fora d’água.

Outra coisa muito legal em Somewhere é a opção deliberada por um ritmo meio lento, uma certa falta de pressa a cada cena que remete ao ritmo com que pai e filha estão se aproximando. Com um roteiro simples e eficiente, abrilhantado pelas atuações apaixonantes de Stephen Dorff e Elle Fanning (irmã mais nova da Dakota), o espectador que curte o cinema cheio de poesia de Sofia Coppola não sairá da sala escura decepcionado.

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