quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Bravura Indômita


Os irmãos Coen são óbvios admiradores do western. Podemos observar ao longo de sua filmografia várias pitadas próprias do gênero, chegando ao auge dessas referências no oscarizado Onde os Fracos Não Tem Vez – este, em todos os aspectos, um faroeste estilizado. Neste Bravura Indômita, Ethan e Joel Coen abandonam o mero flerte para mergulhar de cabeça no gênero consagrado por John Ford e Sergio Leone.

Refilmagem do clássico de mesmo nome de 1969 estrelado por John Wayne, Bravura Indômita acompanha a odisséia de uma garota de 14 anos em busca do assassino do pai. Por conta da má-vontade das autoridades oficiais em perseguir o criminoso Tom Chaney, a resoluta Mattie Ross não vê alternativa senão contratar os serviços do nada confiável Rooster Cogburn. A garota é advertida de sua brutalidade e alcoolismo, mas também de que ele é dotado de grande bravura (daí o título). Receosa em depositar suas esperanças e economias naquele homem rude, Mattie está disposta a acompanhar de perto a caçada e não se detém diante dos protestos de Cogburn. Junta-se à dupla, ainda, LaBoeuf, caubói texano que vem perseguindo Chaney há muito tempo.

O filme é um belo e competente tributo aos grandes longas do gênero, com seus planos abertos, paisagens áridas e fotografia deslumbrante. E o que mais surpreende no longa é justamente isso, o quanto os Coen investem em um cinemão clássico, à moda antiga, deixando o próprio estilo de lado. Claro que o humor sarcástico dos manos pode ser vislumbrado em algumas passagens, mas trata-se de um filme essencialmente atípico da dupla.

O bom roteiro e a direção precisa são ainda mais valorizados pelo jogo de cena entre Jeff Bridges e Hailee Steinfeld. O afeto e cumplicidade que brota, a princípio relutante, entre os dois é a grande mola propulsora da trama. Bridges, em ótima fase, só precisa tomar um pouco de cuidado para não ficar excessivamente marcado por personagens de caubói bêbado. No mais, sua atuação é irretocável. E que surpresa maravilhosa é a pequena notável Hailee Steinfeld, indicada ao Oscar injustamente na categoria de coadjuvante. Não apenas sua personagem é a verdadeira protagonista da trama, como Hailee, como intérprete, toma para si a responsabilidade de conduzir o filme. O bom de a indicarem como coadjuvante é que isso aumenta consideravelmente suas chances de vencer.


Bravura Indômita é um filme brutal. E belo. Mais que tudo, a crueza de diálogos e de situações remete o espectador a uma época selvagem e isenta de sutilezas. É o ser humano sem retoques ou verniz de civilidade nas telas de cinema. E isso pode ser de uma beleza surpreendente. Bravíssimos irmãos Coen.

Confiram a partir dessa sexta.

2 comentários:

  1. É o filme mais romântico dos irmãos Coen! Lindo, lindo, lindo!

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  2. Brutal, belo e emotivo! Impossível segurar as lágrimas na cavalgada de Rooster a caminho de socorro médico para a destemida Mattie, que ainda se preocupa com o cansaço do seu cavalo pretinho. Eu queria ter a bravura dela!

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