quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Vencedor


Não se pode subestimar a força do clichê quando bem-realizado. O Vencedor se apóia numa série de elementos que não costumam fazer a minha cabeça: o famoso “baseado numa história real”, a trama de superação cheia de apelos emotivos e, por fim, a saga do lutador que apanha, apanha e apanha cada vez mais (na vida e no ringue) antes de reagir física e emocionalmente. Parece um pot-pourri de um monte de filmes que a gente já viu antes. Parece e é. Mas, ainda assim, O Vencedor pega o espectador de jeito graças a seus atores, que emprestam grande humanidade aos personagens que interpretam.

Pena que o título original do filme The Fighter, ou seja, O Lutador, não pode ser mantido – esse título já batizou o recente The Wrestler aqui no Brasil. Faria mais sentido, já o protagonista Micky Ward deve enfrentar obstáculos muito mais difíceis do que seus adversários no ringue para se tornar, de fato, um vencedor. Seu irmão mais velho Dicky já foi considerado um boxeador de talento, mas acabou desperdiçando suas chances por conta do vício. Agora Micky é treinado por Dicky e empresariado pela mãe, e as coisas não estão dando certo. Dicky, apesar de amar o irmão e o boxe, continua se drogando e não consegue dar à Micky a estabilidade que este precisa. Quando Micky é convidado para ser treinado profissionalmente, sabe que agarrar sua grande chance significaria romper com a família.

Dentro do panorama traçado para a bizarra família de Micky, o espectador certamente se perguntará como o personagem pode manter alguma sanidade convivendo com aquela fauna que gravita em torno da mãe, pródiga em maridos e filhas pra lá de estranhas com apelidos que soam como de lutadores de vale-tudo. Esse interessante painel da decadência ajuda a dar algum colorido a um roteiro que, no mais, é extremamente convencional. Noves fora, a conclusão é a de que os personagens e as relações entre eles são de longe mais ricos do que a trama propriamente dita. Mérito do irretocável elenco e da boa direção.

Christian Bale está assustador no papel do problemático Dicky, e rouba todas as cenas em que aparece – não que Wahlberg esteja mal, mas Christian atrai nosso olhar como um imã. Confesso que em diversas cenas tive vontade de rir e/ou chorar só de olhar para ele. Bale entrega uma interpretação tão apaixonante que surpreende até mesmo o espectador que foi para o cinema já preparado para ver algo bom (a saraivada de prêmios que o ator já coleciona cria bastante expectativa). Mas seria injusto colocar todos os méritos apenas na atuação arrasadora de Bale, porque o elenco está ótimo como um todo. Melissa Leo, Amy Adams e até Mark Wahlberg – ator que costumamos não valorizar muito – conseguem elevar a qualidade de um filme que deveria ser apenas mediano a um patamar superior.

Uma curiosidade: Mickey O’Keefe, um dos treinadores de Micky Ward, interpreta a si mesmo no filme.

Sexta nos cinemas.

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