sábado, 19 de fevereiro de 2011

James Franco e suas 127 Horas


Como profissional das artes cênicas, eu posso atestar com propriedade: poucas coisas (poucas mesmo) são tão apavorantes para um ator quanto estar sozinho em cena. Não ter com quem dialogar contraria toda a dinâmica da interpretação, calcada no ato de contracenar. Longe de acender a vaidade ou massagear o ego, contracenar consigo mesmo é uma experiência muito trabalhosa e incrivelmente arriscada. Sou fã de quem o faz, e bem. É o caso de James Franco em 127 Horas. Muitos torcem o nariz para sua indicação ao Oscar de melhor ator deste ano. Puro preconceito. Ainda mais porque Franco é bonito. Está certo que o cara ficou famoso como o Harry Osbourne da trilogia Homem-Aranha, mas também já coleciona alguns bons papéis em filmes menos convencionais, como Milk e Segurando as Pontas.

127 Horas narra a saga verídica de Aron Ralston, aventureiro que passou as citadas horas preso pelo braço em uma fenda em uma montanha, em meio a uma região de canions. Autossuficiente e arredio, Ralston não tinha avisado a ninguém onde pretendia se aventurar e, portanto, esperar que viessem resgatá-lo simplesmente não era uma possibilidade. Durante seu calvário, Ralston se confronta com a possibilidade de morrer e repensa todas as suas atitudes, lembrando das pessoas que fizeram diferença para sua vida.

Ao contrário do recente Enterrado Vivo (outra grande interpretação, desta vez de Ryan Reynolds), 127 Horas não é exatamente um filme claustrofóbico. Ao invés de abusar da inércia e dos planos fechados, o diretor Danny Boyle optou por contar sua história de maneira dinâmica. E, por incrível que pareça, conseguiu a façanha de realizar um filme recheado de ação, mesmo tendo seu protagonista imobilizado durante 90% do longa.

Está certo que algumas lembranças soam excessivas, especialmente as que remetem à ex-namorada, mas de um modo geral o recurso funciona muito bem. E é neste ponto, o do contraponto, que a inspirada atuação de James Franco faz toda a diferença, conferindo estados alternados a seu personagem. Grande destaque para as cenas em que o protagonista filma a si mesmo, para o caso de ser encontrado morto.

Franco não vai ganhar o Oscar (esse ninguém tira de Colin Firth), mas sua indicação ao prêmio não apenas é justificada como totalmente merecida. Ainda lamento a injustiça cometida contra Leonardo DiCaprio (que teve não uma, mas duas interpretações fabulosas em 2010), mas isso definitivamente não tem nada a ver com Franco. Se alguém tivesse que sair da lista de indicados para ceder a vez a Leo, esse teria que ser Jesse Eisenberg, que está ali pelo sucesso de A Rede Social como um todo.

2 comentários:

  1. Erika, muito interessante o primeiro parágrafo de sua crítica, não imaginava esta dificuldade. Mas não compartilho o mesmo entusiasmo quanto a interpretação de James Franco. É um ator que não gosto. De qualquer maneira, é possível ver algum progresso neste filme, mas ele sempre é sabotado por uma montagem frenética. Aliás, não só o desempenho do protagonista, mas como também toda a narrativa.

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  2. Mesmo você não simpatizando com ele, Alex, você tem que admitir que Franco está criando para si uma bela trajetória (o cara era escada do Tobey Maguire até bem recentemente). Neste filme, achei ele convincente em cada um dos estados de espírito do personagem.

    A montagem do filme me agradou justamente por tomar um rumo inesperado e injetar um ritmo frenético num filme que deveria ser intimista.

    Enfim, certamente não é o top dos 10 indicados (ficaria, sei lá, em sexto ou sétimo no meu ranking), mas é um filme bastante digno.

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