terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Precisamos Falar sobre o Kevin


O filme, baseado no romance de Lionel Shriver We Need to Talk About Kevin parte de um argumento bem polêmico ao retratar uma mãe que tem uma relação de medo e desconfiança com o filho. Eva é uma profissional bem-sucedida e tem um casamento feliz com o marido, Franklin. Só que tudo muda com o nascimento do filho, Kevin, que se mostra uma criança manipuladora e maldosa desde muito pequeno, direcionando seu desprezo para a mãe ao mesmo tempo em que se mostra dócil e carinhoso na frente do pai. O filme foi exibido em competição no Festival de Cannes do ano passado.

Desde A Profecia não se via nas telas uma criança tão diabólica. Na primeira metade do filme, o espectador certamente não conseguirá desviar os olhos de Jasper Newell, intérprete de Kevin na fase infantil. E o mais assustador é que, neste caso, o personagem não tem nenhuma influência maligna do além. Trata-se apenas de um menino sonso e desagradável, brilhantemente interpretado por um ator de 7 ou 8 anos. A forma como ele se mostra de um jeito para a mãe e de outro totalmente diverso para o pai, lançando olhares do mais puro cinismo pelas costas deste, é impressionante, uma verdadeira campanha anticoncepcional. E é justamente esse o ponto alto do filme, o dilema dessa mãe que tem dificuldades em amar o seu filho – e com toda razão, já que ele é detestável.

Quando chegamos à fase do Kevin adolescente, o filme começa a perder um pouco de sua força inicial. E não é por falta de empenho dos ótimos Tilda Swinton e John C. Reilly, nem mesmo do bom Erza Miller – que faz Kevin aos 15 anos –, mas sim pelo fato do filme mudar de rumo e, infelizmente, arrastar para o lugar-comum uma trama que até então se mostrava mais inovadora e pungente. OK, eu estou ciente de que o filme é baseado em um livro e, portanto, a adaptação não deixa muita escapatória, mas ter essa consciência não impede o sentimento de decepção do espectador ao perceber que o filme se encaminha para abordar um assunto batidérrimo, que vem sendo mostrado no cinema à exaustão na última década. Ainda assim, merece uma conferida. 

2 comentários:

  1. Erika, estou lendo este livro atualmente e evitarei ler seu texto para evitar as novidades que o romance certamente reserva. Ainda assim, me parece que a adaptação cinematográfica foge um pouco da obra literária, pois no livro nós acompanhamos a tragetória da personagem através de cartas que ela escreve para o marido (creio que este não seja um recurso repetido no filme).

    Será que o elogiado desempenho de Tilda Swinton garantirá uma vaga para ela nas premiações cinematográficas que estão por vir? Adoro essa atriz, uma das mais espetaculares em atividade. :-)

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  2. Tilda é sempre maravilhosa, mas não sei se este é um filme que a projeta bem em termos de Oscar... Depois que você terminar o livro, comentamos melhor.

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