sábado, 14 de janeiro de 2012

A Cripta de Poe


Ontem, em plena sexta-feira 13 – a data não poderia ter sido mais apropriada – estreou o fascinante espetáculo A Cripta de Poe, nascida de uma fértil parceria entre duas companhias teatrais, a brasileira Companhia Nova de Teatro e a italiana Cia. Teatro del Contagio. Tomando como sugestiva locação o Castelinho do Flamengo e suas escadarias, salões e recantos, o grupo monta uma dramaturgia inspirada não somente nos contos, mas em toda a atmosfera lúgubre reinante na literatura de Edgar Allan Poe.

OK, eu sei que a minha opinião é meio suspeita. Eu amo Poe. Claro que uma pessoa que tem um corvo e a palavra nevermore tatuados no braço não poderia deixar de curtir essa peça. Mas creiam-me: o espetáculo é capaz de fascinar qualquer espectador que se deixe levar pelo caldeirão de sensações proposto pelos encenadores. Com o auxílio de projeções, fumaça, iluminação tétrica, portas batendo, sons estridentes, muito pancake no rosto e preto nos figurinos, o elenco, durante pouco mais de uma hora, nos conduz a uma febril viagem pelo mundo de pesadelos e delírios do grande escritor americano. Sim, é uma peça itinerante; e esse é um dos grandes baratos: não saber o que nos espera a cada novo patamar ou salão.

Em cena, os brasileiros Matheus Prestes, Rosa Freitas e Carina Casuscelli se juntam aos italianos Omero Affede e Carmen Chimienti para interpretar a dramaturgia criada a partir de fragmentos retirados dos contos/poemas O Espectro, Ligéia, O Retrato Oval, Berenice e William Wilson, além, é claro, da obra-maior de Poe, O Corvo. Numa boa sacada, as projeções dos textos feitas nas paredes auxiliam o público a compreender as falas ditas pelos atores italianos. Vale dizer que ambos são tão claros e expressivos que a legendagem nem me parece tão necessária, mas, de todo modo, é uma solução prática e eficiente para a platéia brasileira.

O melhor de tudo? Trata-se de um espetáculo gratuito. Dá uma alegria danada ver um espaço tão bacana e geralmente tão mal-aproveitado como o Castelinho do Flamengo sendo ocupado por um espetáculo desse nível. A Prefeitura do Rio e a Secretaria de Cultura realmente deveriam incentivar mais propostas assim. A temporada de A Cripta de Poe vai até 5 de fevereiro, com apresentações às sextas e sábados às 21h e domingos às 20h. A classificação etária é de 14 anos. A noite de estreia acabou sendo um pouco tumultuada pelo fato da peça comportar em média 15 espectadores e a produção, numa atitude bastante simpática, ter feito um esforço para atender aos 27 presentes. Claro que isso acabou prejudicando um pouco a logística do espaço cênico, então creio que das próximas vezes o público deve ficar restrito a 15 espectadores mesmo. Minha dica é: deem uma passada por lá cedo, uma hora antes, deixem o nome na lista e retornem depois. No mais, é só abrir a mente e a alma para essa experiência rumo aos recantos mais arrepiantes da existência humana. Bons pesadelos para todos.

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