terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra


Alguns temas são muito caros a Steven Spielberg, eu diria até recorrentes: a inocência perdida, a crença em um ideal mesmo contra todas as possibilidades, as mazelas da guerra e o poder do mito e da fábula. Seu novo longa, Cavalo de Guerra, reúne todas essas vertentes em um filme só, o que equivale a dizer que o cineasta deveria estar bem à vontade em seu terreno cinematográfico. Como explicar então a frustrante constatação de que um filme tão bonito e tão com “a cara” de seu diretor não consiga decolar? E olha que quem vos escreve aqui é uma pessoa que chora vendo filmes como Marley & Eu e que se emociona com quase qualquer coisa envolvendo animais.

O filme conta a história do relacionamento entre o jovem Albert e seu cavalo Joey ao longo da Primeira Guerra Mundial e como eles permanecem emocionalmente unidos apesar da distância, o que não impede que o cavalinho siga encantando pessoas pelo caminho e influenciando (sempre para melhor) suas vidas. A trama se inicia na Inglaterra rural, quando o pai de Albert compra Joey em um leilão por um preço muito acima do que ele valeria. O rapaz se dispõe a fazer com que o pequeno cavalo – inadequado para o trabalho no campo – se adapte às necessidades da família, treinando-o com incansável carinho e teimosia. Mas a guerra estoura, vem os tempos difíceis e a família é obrigada a vender Joey para não perder a fazenda. É quando o cavalo inicia sua jornada épica, primeiro pelas mãos de um oficial britânico, depois capturado pelo exército alemão, e por aí em diante, seguindo por diferentes localidades e tocando a vida de muitas pessoas.

A fotografia deslumbrante do polonês Janusz Kaminski certamente é a grande carta na manga de Spielberg para criar a atmosfera épica pretendida, com suas nuances ricas e tons belíssimos. Mas cinema é muito mais do que imagem em movimento, e infelizmente Spielberg pesa demais a mão no melodrama e na manipulação dos sentimentos do espectador, alcançando um resultado contrário ao pretendido. Cavalo de Guerra acaba ficando no meio do caminho: passa batido pelos dramas reais de guerra, ao focar mais sua história no animal do que nas pessoas e, ao mesmo tempo, tampouco satisfaz em sua porção fábula. Soa pouco verossímil, até mesmo considerando o filme como uma fantasia, que Joey seja tão indestrutível e inabalável e que cative tão imediatamente tantas pessoas de características tão opostas. Ao contrário do que acontece no excelente Seabiscuit – impossível falar de um filme que envolve cavalos sem lembrar deste –, onde uma nação inteira se apaixonou pelo cavalo como símbolo da reconstrução do país, em Cavalo de Guerra a paixão de tantos humanos por Joey soa meio súbita e forçada.

É claro que o filme é pontuado de belos e tocantes momentos, como, por exemplo, a cena em que uma breve bandeira branca se interpõe entre os exércitos inimigos para que dois soldados ajudem Joey a se desvencilhar de uma cerca de arame farpado. O grande problema está no tom grandiloquente, nos delírios estilísticos, na trilha sonora opressivamente épica, nas muitas cenas alongadas além do necessário, enfim, no exagero generalizado. Com uma boa enxugada, o longa poderia ser bem interessante e suas (não poucas) qualidades não se perderiam em meio a tanta imensidão. 

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