quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A Troca


Clint Eastwood possui dois merecidos Oscars de melhor diretor, por Os Imperdoáveis (1993) e Menina de Ouro (2005). E só não tem três porque seu excelente Sobre Meninos e Lobos bateu de frente com Peter Jackson justamente no ano em que o neozelandês levou onze estatuetas para coroar seu tour de force O Senhor dos Anéis. Em plena atividade aos 78 anos, Clint é uma figura admirável em todos os aspectos. Mas até mesmo Dirty Harry pode se equivocar, como demonstra este A Troca.

O roteiro foi escrito a partir de um caso real, documentado pela prefeitura de Los Angeles. Em um sábado de 1928 como outro qualquer, Christine Collins, mãe solteira e independente, se despede do filho de nove anos, Walter, e sai para trabalhar. Ao retornar, constata que o filho havia desaparecido sem deixar nenhum vestígio. Cinco meses depois, a polícia lhe dá a boa notícia de que Walter foi encontrado vivo e longe dali. Um menino é trazido e Christine tem um grande choque ao ver que não o reconhece como seu filho. Pressionada pelos policiais e atordoada pela imensa quantidade de jornalistas e fotógrafos, ela acaba duvidando de seus próprios instintos e leva a criança para casa. Logo constata que aquele realmente não é seu filho, mas a polícia se recusa a admitir que errou e passa a tratar Christine como louca.

Angelina Jolie tem performance exagerada, cheia de caras, bocas e gritos de leoa ferida. Não chega a ser uma interpretação ruim, apenas meio over – daí indicá-la ao Globo de Ouro já acho um exagero. Aliás, todo o filme tem uma atmosfera de exagero e grandiloquência que não é muito comum na filmografia recente de Clint Eastwood. O figurino riquíssimo de Angelina, por exemplo, parece excessivo para uma mãe de família batalhadora. Sempre com boca e olhos bem delineados, esbanjando charme até quando leva choque elétrico, a caracterização de atriz exala uma sofisticação desnecessária e até mesmo falsa.


As cenas se alongam, especialmente na segunda metade, e a trama troca de foco várias vezes, indecisa entre seguir a busca incansável da mãe coragem por seu filho ou denunciar a arbitrariedade e corrupção das autoridades. E tudo fica ainda mais difuso depois que entra em cena uma variante a respeito de um fazendeiro psicopata e seu sobrinho. Como se não bastasse, o roteiro vai se embaralhando e deixando uma série de detalhes mal-explicados ao longo do caminho. É tanta perfumaria e tão pouca coerência que o espectador certamente se perguntará o quanto o roteiro foi fiel aos fatos que lhe serviram de base.

Agora nos resta esperar por Gran Torino, o outro filme de Clint Eastwood feito em 2008, e torcer para que o diretor tenha tropeçado apenas neste aqui. Gran Torino estréia somente em fevereiro; A Troca, nesta sexta-feira.

3 comentários:

  1. Tava ansioso para conferir este filme,confesso que dei uma desanimada depois de ler sua crítica..vou checar o novo do Kevin Smith antes então.

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  2. Eu discordo.

    O filme tem um roteiro muito bem articulado, fotografia noir com mesclagens de cores sóbrias, direção de arte sublime...e a atuação de Jolie é cuidadosa, cada olhar e gestos. Sua opinião sobre ela me lembrou a da crítica Isabela Boscov, uma pena: acho que Jolie deu um ar elegante, intenso e emocional ao desenvolvimento deste filme que, surpreendentemente, foi baseado num fato real e triste.

    A indicação ao Oscar e ao globo de ouro foi merecido. Desde Garota, Interrompida Jolie não atuava tão intensamente. Há cenas que ela apenas se revela com um único olhar ou tom de voz...e isso é suficiente.

    Este filme é, sem sombra de dúvidas, mais eficiente que o bobo e superestimado Menina de ouro.

    Sobre meninos e lobos, A Troca e Gran Torino são filmes últimos mais notórios de Clint Eastwood, ao meu ver.

    Clint demonstra um extremo carinho em dirigir este filme...desde pequenos detalhes - como no começo do filme, com o logo da Universal antigo pra conceber um aspecto de "antiguidade" no filme - e a trilha sonora proposta por ele mesmo.

    Abraço

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