Clint Eastwood possui dois merecidos Oscars de melhor diretor, por Os Imperdoáveis (1993) e Menina de Ouro (2005). E só não tem três porque seu excelente Sobre Meninos e Lobos bateu de frente com Peter Jackson justamente no ano em que o neozelandês levou onze estatuetas para coroar seu tour de force O Senhor dos Anéis. Em plena atividade aos 78 anos, Clint é uma figura admirável em todos os aspectos. Mas até mesmo Dirty Harry pode se equivocar, como demonstra este A Troca.
O roteiro foi escrito a partir de um caso real, documentado pela prefeitura de Los Angeles. Em um sábado de 1928 como outro qualquer, Christine Collins, mãe solteira e independente, se despede do filho de nove anos, Walter, e sai para trabalhar. Ao retornar, constata que o filho havia desaparecido sem deixar nenhum vestígio. Cinco meses depois, a polícia lhe dá a boa notícia de que Walter foi encontrado vivo e longe dali. Um menino é trazido e Christine tem um grande choque ao ver que não o reconhece como seu filho. Pressionada pelos policiais e atordoada pela imensa quantidade de jornalistas e fotógrafos, ela acaba duvidando de seus próprios instintos e leva a criança para casa. Logo constata que aquele realmente não é seu filho, mas a polícia se recusa a admitir que errou e passa a tratar Christine como louca.
Angelina Jolie tem performance exagerada, cheia de caras, bocas e gritos de leoa ferida. Não chega a ser uma interpretação ruim, apenas meio over – daí indicá-la ao Globo de Ouro já acho um exagero. Aliás, todo o filme tem uma atmosfera de exagero e grandiloquência que não é muito comum na filmografia recente de Clint Eastwood. O figurino riquíssimo de Angelina, por exemplo, parece excessivo para uma mãe de família batalhadora. Sempre com boca e olhos bem delineados, esbanjando charme até quando leva choque elétrico, a caracterização de atriz exala uma sofisticação desnecessária e até mesmo falsa.
As cenas se alongam, especialmente na segunda metade, e a trama troca de foco várias vezes, indecisa entre seguir a busca incansável da mãe coragem por seu filho ou denunciar a arbitrariedade e corrupção das autoridades. E tudo fica ainda mais difuso depois que entra em cena uma variante a respeito de um fazendeiro psicopata e seu sobrinho. Como se não bastasse, o roteiro vai se embaralhando e deixando uma série de detalhes mal-explicados ao longo do caminho. É tanta perfumaria e tão pouca coerência que o espectador certamente se perguntará o quanto o roteiro foi fiel aos fatos que lhe serviram de base.
Agora nos resta esperar por Gran Torino, o outro filme de Clint Eastwood feito em 2008, e torcer para que o diretor tenha tropeçado apenas neste aqui. Gran Torino estréia somente em fevereiro; A Troca, nesta sexta-feira.
Tava ansioso para conferir este filme,confesso que dei uma desanimada depois de ler sua crítica..vou checar o novo do Kevin Smith antes então.
ResponderExcluirJá revi, Erika. Gostei mais. Bjo!!!
ResponderExcluirEu discordo.
ResponderExcluirO filme tem um roteiro muito bem articulado, fotografia noir com mesclagens de cores sóbrias, direção de arte sublime...e a atuação de Jolie é cuidadosa, cada olhar e gestos. Sua opinião sobre ela me lembrou a da crítica Isabela Boscov, uma pena: acho que Jolie deu um ar elegante, intenso e emocional ao desenvolvimento deste filme que, surpreendentemente, foi baseado num fato real e triste.
A indicação ao Oscar e ao globo de ouro foi merecido. Desde Garota, Interrompida Jolie não atuava tão intensamente. Há cenas que ela apenas se revela com um único olhar ou tom de voz...e isso é suficiente.
Este filme é, sem sombra de dúvidas, mais eficiente que o bobo e superestimado Menina de ouro.
Sobre meninos e lobos, A Troca e Gran Torino são filmes últimos mais notórios de Clint Eastwood, ao meu ver.
Clint demonstra um extremo carinho em dirigir este filme...desde pequenos detalhes - como no começo do filme, com o logo da Universal antigo pra conceber um aspecto de "antiguidade" no filme - e a trilha sonora proposta por ele mesmo.
Abraço