quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Surpresas do Amor


Os filmes de Natal (ou de como sobreviver a ele) são quase um subgênero dentro das comédias românticas. Todo ano, temos pelo menos alguns exemplares de histórias doces e engraçadas sobre personagens que redescobrem a família e os nobres sentimentos nesta época de Jingle Bells. Surpresas do Amor – no original, Four Christmases – pertence a essa safra, independente de ter chegado aqui no Brasil um mês depois. O longa, beneficiado pela temporada fraca, fez mais de US$ 18 milhões em seu final de semana de estréia nos EUA e liderou o ranking americano durante duas semanas.

Reese Witherspoon e Vince Vaughn são Kate e Brad, namorados há três anos. Os pais de ambos são divorciados e, para evitar o suplício de comparecer a quatro reuniões familiares na mesma noite, todo ano o casal mente descaradamente para os familiares e inventa uma causa humanitária em pleno Natal. Enquanto a família pensa que eles estão vacinando órfãos na Somália ou salvando baleias sei lá onde, Kate e Brad estão num paraíso qualquer curtindo o Natal a dois e sem estresse. Até o ano em que um nevoeiro faz com que todos os voos sejam cancelados e, para piorar, eles são entrevistados no aeroporto por um noticiário local. Não tem jeito: eles terão que encarar as famílias e os detalhes nada glamourosos de cada um.

Com um péssimo título em português, que lembra milhares de outros filmes que já vimos antes, podemos dizer que Surpresas do Amor é um filme indolor. Claro que a trama é totalmente previsível do começo ao fim, mas pelo menos se desenvolve com alguma graça. Embora salpicado por uma série de situações exageradas – como as que envolvem os irmãos lutadores de Brad –, o roteiro até que discute uma tese interessante: a de que ninguém realmente conhece a cara-metade até tomar contato com aquelas indiscrições que só os familiares conseguem fazer a respeito de uma pessoa, desenterrando esqueletos que se julgava para sempre enterrados. Assim é com o casal Kate e Brad, que até então só conviviam com o lado “pré-aprovado” um do outro.

Também é interessante notar que a direção tira o máximo proveito da imagem constituída de seus protagonistas. No caso, o estilo “sou grosso, porém gente boa” de Vince Vaughn e o jeito mandão e espevitado da lourinha Reese Witherspoon. A atriz, aliás, está no auge de sua carreira. A ex-estrelinha adolescente que construiu uma carreira focada em comédias poderia ter ficado marcada para sempre como a “legalmente loura”, mas não foi o que aconteceu. Há dois anos Reese personificou June Carter, companheira de palco e de vida do ícone Johnny Cash... e levou o Oscar para casa. Já Vince Vaughn é aquilo mesmo, um ator limitado com charme cafajeste. Mas funciona em cena, como já tinha provado antes em Separados pelo Casamento. Chama atenção o bom elenco de apoio, com gente como Robert Duvall, Sissy Spacek e Jon Favreau em papéis diminutos.

No geral, Surpresas do Amor é um filme tradicional e não sai da fronteira do mediano. Mas pode causar no espectador um efeito colateral benéfico: fazer com que ele saia do cinema achando que suas reuniões familiares não são tão ruins assim.

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