sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button


O cineasta David Fincher escreveu seu nome na sétima arte através de dois projetos bastante originais e polêmicos, Se7en e O Clube da Luta. Também dirigiu Alien 3, O Quarto do Pânico e, mais recentemente, Zodíaco. Se fosse preciso adjetivar toda a filmografia de Fincher com uma única palavra, certamente esta palavra seria “violenta”. O que só torna ainda mais admirável o fato dele realizar com extrema competência um filme totalmente diferente de tudo que havia feito anteriormente: o belo, delicado e apaixonante O Curioso Caso de Benjamin Button.

O filme, como diz o título, conta a história de um homem marcado por uma estranha anomalia: Benjamin Button envelhece ao contrário. Embora sua idade e maturidade avancem, seu corpo rejuvenesce ao invés de envelhecer. Benjamin nasce com todas as características de uma pessoa idosa: rugas na pele, artrite nos ossos, etc. Seu pai o abandona, assustado com sua aparência repulsiva e desorientado pela morte da esposa. Benjamin é criado por Queenie e Tizzy, um casal que dirige um lar para idosos. A princípio, eles acreditam que o esquisito bebê terá pouco tempo de vida. Só depois de alguns anos, começam a perceber que ele está crescendo e ficando menos frágil.

Uma criança com a aparência de um homem idoso, posteriormente um adolescente com aparência de meia-idade; Benjamin só encontra o equilíbrio e a realização do amor na metade de sua vida. Mas o tempo não para e ele sabe que aquele momento perfeito tem os dias contados, pois sua amada Daisy envelhecerá normalmente enquanto ele continuará a rejuvenescer. Como manter esse amor, se a diferença entre eles se aprofundará um pouco mais a cada dia?

O roteiro, baseado no conto homônimo de F. Scott Fitzgerald, foi escrito por Eric Roth, que venceu o Oscar em 1994 por Forrest Gump e foi indicado duas outras vezes (em 2000 por O Informante e 2006 por Munique). Embora tenha quase três horas de duração, em nenhum momento o longa é cansativo. A narrativa é tão redonda e bem estruturada que o espectador acompanha com atenção cada uma das fases da vida desse homem extraordinário e das pessoas que ele conhece ao longo do caminho, numa odisséia que se inicia em 1918 e atravessa o século XX. Outro destaque é o bom humor com que a trama é entremeada. Reparem na historinha bizarra do cara que foi atingido por raios sete vezes.

A parte técnica do filme é igualmente brilhante, com destaque para a maquiagem e os efeitos visuais que fazem Brad Pitt e Cate Blanchett parecer mais jovens ou mais velhos do que realmente são, conforme a fase em que se encontram seus personagens. Também a fotografia e direção de arte caprichadíssimas proporcionam momentos de puro deleite visual, cenas que dizem tudo através da poesia das imagens.


Mas nada disso faria de Benjamin Button o grande filme que é se não fosse o trabalho apaixonado de Brad Pitt e Cate Blanchett como Benjamin e Daisy. Talvez o nível de sensibilidade e minimalismo da interpretação de Pitt nem possa ser devidamente apreciado por conta do virtuosismo da caracterização, que chama para si muito da atenção do espectador. Mas trata-se da melhor interpretação de toda a carreira dele.

O Curioso Caso de Benjamin Button é a intrigante jornada de um homem impossibilitado de criar raízes. Um homem condenado a uma existência que sempre o distanciará de todas as pessoas que amar. Mas o filme não tem nenhum tom de amargura. Benjamin sabe que não vai viver feliz para sempre, mas será feliz enquanto for possível. E sua história emociona porque envolve o espectador. Não há um grande momento dramático, uma revelação bombástica, uma cena chocante, uma grande virada. O filme é um somatório de delicadeza, lirismo e beleza. É luar, chuva, beijo na boca, sorriso. É um gato se espreguiçando ao sol. É cinema com “C” maiúsculo. Que coisa boa e revigorante já no comecinho de 2009 assistir a um filme desse nível. Desde já, um dos melhores do ano!

3 comentários:

  1. Belíssimo filme. A cena na cabana de cobertor foi boa demais, o filme inteiro é ótimo e como você disse, não se vê o tempo passar. Vai pro Oscar com tudo.

    Té mais!

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  2. Não achei tudo isso. Achei um bom filme, mas o Fincher derrapou na direção exibicionista e malabarista, "comendo" o bom, mas irregular, roteiro do Eric Roth.

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