sexta-feira, 27 de junho de 2008

A Força da Amizade


Dá para desconfiar de um título desses, não é verdade? Embora o filme originalmente se chame Bonneville – um modelo clássico de conversível, pertencente à protagonista – até que os distribuidores brasileiros acertaram direitinho na breguice do título made in Brazil. Porque, meus caros, A Força da Amizade é cafona de doer.

A história, que mistura o estilo amigas-até-debaixo-d'água com road movie, se desenrola em torno da viagem que a cinquentona Arvilla tem que fazer para entregar as cinzas de seu recém-finado marido à filha dele no outro lado do país. Apoiada pelas duas melhores amigas, a truculenta Margene e a certinha Carol, o trio cai na estrada no tal Bonneville conversível de Arvilla. É claro que, ao longo da jornada, surgem conflitos, descobertas e aventuras.

Num primeiro momento, é difícil não lembrar de Thelma & Louise. Mesmo considerando que são três mulheres de meia-idade a caminho de um funeral e não duas amigas à procura de aventura num final de semana. Mas a semelhança – que parece intencional devido ao fato de terem escolhido um carro conversível – pára por aí. Aliás, se esse filme tivesse metade do vigor ou do potencial dramático do longa de Ridley Scott, eu já me daria por satisfeita. Ao invés disso, temos três amigas que não poderiam ser mais incompatíveis descobrindo os prazeres da vida num improvável rito de passagem causado pela exigência de uma filha birrenta em deter as cinzas de um pai ausente.

Está certo que ao menos temos três atrizes pra lá de competentes em cena, mas, ainda assim, a produção parece engessá-las em antigos estereótipos: a outrora linda Jessica Lange, mesmo deformada pelos efeitos do botox, ainda é enquadrada no perfil de femme fatale; Kathy Bates reassume o estilo caminhoneira sem papas na língua que tem sido associado à sua imagem nos últimos dez anos; e a ótima Joan Allen parece condenada a encarnar mulheres certinhas e insossas que exalam frigidez.

No mais, a trama se desenvolve de modo previsível, burocrático e extremamente careta. Um exemplo disso é quando cruza o caminho das amigas o caminhoneiro vivido por Tom Skerrit. Como Arvilla sofre a perda do marido e Carol é casada, o galanteador se encanta logo de cara com Margene. Não estou dizendo que o cara não poderia se interessar pela amiga mais feia, o problema é que tudo soa arrumadinho e conveniente demais. Podemos até dizer que estamos diante de um filme sem conflitos, já que a questão de entregar ou não as cinzas do finado para a filha deste é resolvida logo de cara e apenas serve de mote para as que as personagens cruzem uma longa distância. Aliás, o próprio fato das amigas perceberem que Arvilla pretende ir de carro e não de avião e deixarem por isso mesmo tampouco convence – ainda mais considerando que Carol deixou marido e filha para trás.

A Força da Amizade, rodado em 2006, é o segundo filme do diretor Christopher N. Rowley - o primeiro foi algo obscuro chamado The Remembering Movies, em 2002. O rapaz não tem novos projetos em andamento. Dá para entender o porquê.

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