sábado, 14 de junho de 2008

Não Estou Lá


Outra novidade nas locadoras que vale a pena conferir é Não Estou Lá, uma livre representação do universo de Bob Dylan e suas diversas facetas. Jovem poeta, ícone folk, roqueiro rebelde, cristão convertido, caubói solitário e, sobretudo, porta-voz de toda uma geração. Suas revoluções musicais e estéticas eram um espelho das mudanças do mundo, em especial nos valores da sociedade americana. Exibido em 2007 nos Festivais de Toronto e Veneza, além de ter sido um dos maiores destaques do Festival do Rio. Neste filme, Dylan é interpretado por seis atores diferentes: Christian Bale, Cate Blanchett, Marcus Carl Franklin, Richard Gere, Ben Wishaw e o saudoso Heath Ledger. Todos são ele. Nenhum é ele. Na verdade, são personalidades independentes que, reunidas, formam o caleidoscópio que é Bob Dylan.

Não Estou Lá não apenas acompanha as metamorfoses de Dylan como também as exemplifica na própria estrutura do longa. Para cada faceta do biografado, temos um estilo diferente. É como se fosse um filme com seis episódios, incluindo aí um autêntico western que faz uma correlação entre o Dylan mais maduro e o fora-da-lei Billy the Kid. E o mais impressionante é que há uma estranha harmonia no todo, a despeito das partes serem tão dissonantes entre si. A cena de abertura do filme mostra uma morte fictícia – ou melhor, metafórica – do ídolo. Talvez a chave para tão bizarro pressuposto esteja na própria canção que dá título ao longa, que diz em sua última estrofe: “I’m not there, I’m gone” - eu não estou lá, eu fui embora (ou estou acabado).



Sem dúvidas Não Estou Lá é um filme extremamente criativo e referencial. O único problema é que esse excesso de referências pode ser uma faca de dois gumes. Se, por um lado, levará os fãs de Bob Dylan ao êxtase, por outro é um pouco excludente com aqueles que não estão totalmente familiarizados com suas letras. Eu, particularmente, confesso que “boiei” em diversas passagens - para quem quiser se prevenir, uma boa opção é assistir antes a No Direction Home, documentário de Martin Scorsese sobre o homem. O que não me impediu de apreciar outras qualidades evidentes, como a estética deslumbrante, a concepção imaginativa e a fabulosa interpretação do elenco. E, como não poderia deixar de ser, a deliciosa trilha sonora.

Por fim, ainda acho uma grande injustiça Cate Blanchett ter perdido o Oscar de atriz coadjuvante para Tilda Swinton. A incorporação de Cate de todo o gestual de Dylan é uma das coisas mais impressionantes que eu já vi.

2 comentários:

  1. Não gostei do filme, mas, talvez, justamente por não ter visto o trabalho do Scorsese.

    Até que enfim alguém concorda comigo que o Oscar era da Cate. Que alívio, não estou sozinho nessa...

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  2. Eu assisti ao filme no Festival do Rio e saí da sala maravilhado. Não conhecia a história de Dylan e sabia que não havia compreendido as referências. Mas é poesia pura.
    O trabalho de Cate é sublime. Sem dúvida alguma merecedora do Oscar.

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