quinta-feira, 26 de junho de 2008

Fim dos Tempos


Foi em 1999 que M. Night Shyamalan realizou o irrepreensível O Sexto Sentido – aquele do I see dead people. Na época, compararam seu talento como roteirista, cineasta e, sobretudo, criador de suspense ao do mestre Alfred Hitchcock. Desde então, Shyamalan vem tentando provar ao mundo – e talvez a ele mesmo – que a comparação é merecida. Mas não foi preciso que muito tempo se passasse para que o público em geral chegasse à conclusão do quanto o moço foi supervalorizado.

A verdade é que Shyamalan nunca mais conseguiu repetir o fenômeno O Sexto Sentido, e muito menos escrever um roteiro redondinho e empolgante como aquele. Corpo Fechado e Sinais são pirações que não se sustentam, A Vila é razoável e A Dama na Água apenas tem bons momentos. Mas, a despeito das deficiências de cada um desses filmes, suas histórias pelo menos tinham o poder de manter a atenção até o desfecho. Agora, com Fim dos Tempos, o cineasta alcança um novo patamar: o dos filmes chatos.

O início até que é interessante: uma moléstia de origem desconhecida atinge Nova Iorque e de lá se espalha para outras cidades. O primeiro sintoma é uma espécie de letargia, que rapidamente evolui para um desejo irresistível de se suicidar. Logo, estão todos mortos nas áreas afetadas. Elliot, um professor da Filadélfia, se põe em fuga com a esposa Alma, o melhor amigo e a filha deste, já que as grandes cidades parecem favorecer o misterioso mal.

Conforme avançam nas estradas, as opções de lugares não-infectados ficam cada vez mais escassas. E o filme se desenrola como um interminável e bizarro road movie. O grupo em torno de Elliot e Alma vai diminuindo, ao mesmo tempo em que eles percebem que o estranho acontecimento que eles a princípio julgavam ser uma guerra biológica parece ter causas naturais e vontade própria, como se estivesse encurralando as pessoas.

É claro que você, espectador, espera que tudo isso tenha uma explicação ao final. Notem que eu não digo nem uma explicação plausível, mas uma uma explicação qualquer. Pois bem. Não tem. Em determinada hora, existe um desfecho para a situação. Mas não um motivo para ela ter ocorrido. Ocorreu porque Shyamalan assim escreveu, e pronto. E o que torna a resolução choca mais irritante é o fato do filme ter sido incrivelmente arrastado e tedioso antes de desembocar nesse anticlímax. Depois de noventa minutos que mais parecem três horas, o mínimo que o espectador merece é um final decente. Ah, e não pensem que ele desistiu de brincar de aparecer em seus filmes – mais uma mania chupada de Hitchcock. O moço está no filme, sim. Mas de uma forma que só é possível identificá-lo ao ler os créditos.

Está comprovado: M. Night Shyamalan é cineasta de um sucesso só. O restante é pura embromação. E, a julgar por sua filmografia, a tendência é piorar a cada nova tentativa de produzir um novo O Sexto Sentido. Fim dos Tempos, título em português para The Happening, parece profético se olharmos dentro deste contexto.

2 comentários:

  1. Olá moça...

    Que bom vê-la passeando pelo meu bloguinho... vossa visita é sempre muito bem vinda. Quanto à bronca não duvido que tenha sido o próprio J.L.Borges aprontando alguma do além. Até por que certa vez adaptei um conto dele pro teatro e nem paguei os direitos , nem pedi permissão (ele já tinha empacotado).

    Bem, sou fã do Shyamalan, mas concordo com um bocado de coisas daí do post. O cara está perdendo a forma mesmo...

    No mais, FUP é mesmo ótimo! Imperdível!

    Apareça
    beijos
    Rodrigo.

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  2. Meu Deus, ainda não vi Fim dos Tempos...

    Abraço!

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