sábado, 7 de junho de 2008

Sex and the City – O Filme


O seriado Sex and the City foi uma grande febre que tomou conta da grande maioria das mulheres entre 1998 e 2004. Sarah Jessica Parker, de atriz que não deu muito certo nas telonas, foi catapultada ao estrelato e virou referência não apenas como protagonista de uma série de sucesso mas também como ícone de moda e bom gosto. E não foi só. Cada vez que um restaurante era mostrado em um episódio, o sucesso perante a clientela estava garantido. Pelo menos, por um tempo. Porque uma cidade como Nova Iorque dava à produção do seriado o luxo de não precisar repetir cenários externos. Mas não foram as boates transadas e os restaurantes chiques de Manhattan, nem os exóticos figurinos de Patricia Field ou os criativos sapatos de Manolo Blahnik que fizeram a fama de Sex and the City. A sensação maior era o despudor com o qual o sexo era tratado pelos roteiristas, especialmente na figura da liberadíssima Samantha. Temas como masturbação, lesbianismo e sexo a três saem do armário e ganham o horário nobre da televisão.

Seis temporadas e vários prêmios depois, a série chegou ao fim. A romântica Charlotte estava prestes a realizar seu sonho de ser mãe adotando um bebê chinês; a fogosa Samantha aquietara ao lado do ator Smith Jerrod após um período difícil em que enfrentou um câncer; a teimosa Miranda finalmente se rendera aos apelos de Steve, o pai de seu filho; e Carrie, a estrelíssima Carrie, parecia finalmente ter acertado as arestas de seu tumultuado romance com John – o famoso Mr. Big. A idéia de realizar um longa-metragem surgiu quase instantaneamente, mas quis o destino – ou melhor, as exigências de Kim Catrall, a Samantha – que o filme levasse quatro anos para ser feito. E talvez isso tenha sido a melhor coisa a acontecer, já que esse hiato permitiu que os fãs sentissem saudade das personagens e aguardassem ansiosamente pela estréia do filme.

Em Sex and the City – O Filme, reencontramos as quatro amigas dando continuidade à situação que viviam ao final da série: Miranda se mudou para o Brooklyn e cria o pequeno Brady ao lado de Steve, mas a relação vive nova crise por conta do estresse dela em se dividir como profissional, mãe e esposa; Charlotte tem um casamento feliz com o advogado Harry e, agora que a pequena Lily entrou na vida deles, sente-se plenamente realizada; Samantha se divide entre Los Angeles e Nova Iorque por conta da carreira hollywoodiana de Smith e se ressente pelo foco da relação agora ser o namorado; Carrie e Big estão felizes e planejam morar juntos. Parece que as meninas estão mais caseiras, colhendo frutos da maturidade. Tudo isso é mostrado junto com os créditos de abertura, num eficiente resumão para quem nunca assistiu à série – se é que existe tal espectador. De qualquer modo, a simpática abertura já nos coloca dentro do universo das personagens.

Preocupada em assegurar alguma estabilidade, Carrie acaba forçando a barra para transformar o “morar juntos” em casamento. Big concorda, mas começa a ter dúvidas conforme a notícia se espalha e o casamento ganha proporções cada vez maiores. Nós espectadores, vemos o desastre iminente e, ao mesmo tempo, entendemos o momento de cegueira de Carrie. E vale ressaltar que Carrie Bradshaw é uma personagem tão fascinante justamente por essa mistura de sensibilidade e futilidade. É claro que Big é o amor de sua vida, que ela lutou para conquistar ao longo de dez anos, mas ela acaba deixando o cerne da relação meio de lado conforme vai sendo engolida pelo frisson de um casamento dos sonhos. E convenhamos: como continuar bravamente atada à idéia de uma recepção íntima depois de posar para um ensaio da Vogue e ainda ganhar um vestido de noiva by Vivienne Westwood? Isso é apenas um exemplo dos muitos fatores que fazem com que Carrie pire, e exclua Big de sua egotrip. Como diz numa cena, ela fez o evento ficar maior que o noivo, Big (bigger than big, ótimo trocadilho).


Mas o filme não é apenas de Carrie, embora ela sempre tenha sido sem dúvida a personagem mais bem desenvolvida psicologicamente. Enquanto as outras três personagens são um pouco exageradas em suas obsessões – sexo para Samantha, família para Charlotte, independência para Miranda – Carrie se apresenta sempre dividida por emoções contraditórias. Paixão, carreira, amizade, inteligência, sofisticação, simplicidade, boemia, romance, liberdade, todos esses impulsos e muitos outros numa pessoa só. E, como todo ser humano, ela faz burradas. Muitas.

Um dos grandes trunfos de Sex and the City é contar com exatamente a mesma equipe do seriado, desde o diretor Michael Patrick King até personagens secundários ao qual estávamos acostumados como o amigo gay de Carrie, Stanford, ou a babá do filho de Miranda, Magda. A novidade no elenco é Jennifer Hudson, cantora revelada atriz no musical Dreamgirls (e vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2007). Jennifer é Louise, garota cheia de estilo que usa bolsas de grife alugadas e é contratada por Carrie para ser sua assistente pessoal. E, no quesito brinde para os fãs, a coisa vai além de reencontrar os antigos personagens. Até o famoso vestidinho com saia de tule que Carrie usava na abertura da série - e que vimos episódio após episódio, ao longo das seis temporadas - faz uma participação especial. O roteiro também não decepciona: é bem escrito, com ritmo ágil e tiradas espirituosas. Nada menos que do esperávamos. Detalhe: as duas horas e vinte minutos de duração do filme podem até parecer excessivas em tese, mas passam muito rápido ao assisti-lo. E isso sempre foi um ótimo termômetro.

Resumindo? Sex and the City – O Filme é ouro puro para quem curtiu a série, mas também pode agradar qualquer um que esteja disposto a dar boas risadas e talvez até se emocionar um pouquinho com os encontros e desencontros de quatro mulheres que um dia foram a Nova Iorque loucas para se apaixonar. Se não conseguissem, pelo menos poderiam virar a noite num lugar bacana usando um vestido fabuloso. Esse é o espírito Carrie Bradshaw.

Um comentário:

  1. Nunca via a série, talvez por isso não me empolgue muito para ver o filme.

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