sexta-feira, 6 de junho de 2008

Bella


José foi um famoso jogador de futebol, mas um acidente acabou com sua carreira. Anos depois, ele é chef no restaurante de seu irmão Manny e não vê com bons olhos o modo grosseiro como ele trata os empregados. Nina, garçonete do local, é despedida por se atrasar constantemente. José resolve tomar partido da moça e, num momento de revolta, deixa a cozinha e vai atrás dela para consolá-la. Os dois acabam passando o dia juntos e descobrindo mais sobre o outro num único dia do que em anos que passaram trabalhando juntos.

Bella é mais um daqueles filmes no estilo “dois estranhos que descobrem súbitas afinidades”. OK. Existem vários bons filmes feitos a partir desse mesmo argumento, desde o clássico Antes do Amanhecer até o recente Apenas uma Vez. Não é a originalidade – ou falta dela – que faz o longa ser bom ou ruim. O que não pode é pegar uma fórmula manjadíssima como essa e tratar a história como receita de bolo, adicionando ingredientes pré-fabricados.

Se compararmos Bella com Apenas uma Vez – só pra ficar num exemplo recente –, a primeira e grande diferença é que, no longa irlandês, os personagens tinham seu amor pela música a uni-los. E isso é um ponto que faz toda a diferença. Em Bella, é difícil para o espectador perceber o que aproximou de forma tão intensa José e Nina. O casal não transmite nenhuma cumplicidade, a não ser no aspecto de ambos acharem Manny um tirano insensível. Mas até mesmo essa frágil afinidade é quebrada no decorrer do filme. Tem-se a impressão que José estava mais interessado em dar uma lição no irmão do que propriamente em se aproximar da garota.

Não seja um filme desagradável de se assistir. Mas, depois de um certo tempo, você quer que a história chegue a algum lugar, tenha alguma identidade própria e faça mais do que reproduzir cenas e situações que você já viu antes em outros filmes. Os protagonistas soam artificiais em sua afetividade, lembrando ao espectador a todo instante que são personagens seguindo um roteiro escrito e não pessoas de verdade. E é muito chato quando essa “costura” fica tão evidente aos olhos do espectador, impedindo-o de “entrar” no filme.

Não bastasse o roteiro preguiçoso, o longa ainda é estrelado por um casal que não possui nenhuma química em cena. Para terminar de desandar a receita, o desfecho do filme é de uma pieguice e falta de criatividade espantosa. Mais espantoso ainda é saber que, apesar de todas as suas deficiências, Bella saiu do Festival de Toronto 2006 vencedor do prêmio do júri popular. Vai entender.

Por que o longa se chama Bella? Há uma explicação, embora o porquê do filme ter recebido esse título seja apenas mais uma coisa que parece artificial no contexto geral.

Nenhum comentário:

Postar um comentário