sábado, 28 de junho de 2008

Corpo


Na cidade de São Paulo, uma enorme ossada é descoberta e levada ao IML. Desconfia-se que os esqueletos pertençam a pessoas desaparecidas durante a ditadura militar. Junto aos ossos, também é encontrado um cadáver de mulher ainda não decomposto. O legista Artur fica obcecado em descobrir a identidade da moça e desenvolve uma estranha teoria de que aquele corpo foi enterrado junto com os outros e, por algum motivo, se preservou por mais de trinta anos.

Boas idéias nem sempre se transformam em bons filmes. É a única coisa que me vem à mente na hora de tentar explicar o porquê de um argumento tão interessante ter resultado num filme tão problemático. O necrotério é um cenário criativo, o legista é um excelente personagem e idéia do corpo sem identidade gera inúmeras possibilidades. Então o que desandou?

Certamente o ponto crítico de Corpo é seu roteiro: além dos diálogos não serem bons, a estrutura também é meio esquisita. Por que aquele corpo teria se preservado? Milagre? Ou tudo não passa de uma metáfora do tipo “um dia a verdade vem à tona”? Esse é apenas um exemplo das muitas pontas soltas da história. Também existem cenas aleatórias, que não apenas nada acrescentam à história como também colocam novas dúvidas na cabeça do espectador. O curioso é que percebe-se que o roteiro tenta trabalhar com alguns elementos clássicos do cinema noir, como o homem maduro desiludido, a jovem cheia de mistérios que muda sua rotina, um crime a ser desvendado, etc. Mas apenas colocar os ingredientes na batedeira não faz um bolo.

Leonardo Medeiros, um dos melhores atores da atualidade, é o único responsável por manter o espectador conectado com a confusa história até o fim. Vê-lo em cena é sempre bom. Ao mesmo tempo, é decepcionante, já que só nos resta lamentar sua escolha.

5 comentários:

  1. Bom dia Erika,
    olha, vc foi muito injusta nessa sua crítica e fez comentários altamente dispensáveis. Nem eu que ainda não vi o filme, apenas li o roteiro e o argumento, pensei as coisas que vc comenta no texto.
    Porque quando vc diz:

    'Certamente o ponto crítico de Corpo é seu roteiro: além dos diálogos não serem bons, a estrutura também é meio esquisita. Por que aquele corpo teria se preservado? Milagre? Ou tudo não passa de uma metáfora do tipo “um dia a verdade vem à tona”?'

    Eu respondo: Cientificamente falando, o corpo teria se preservado por motivos hoje ainda desconhecidos. Milagre é a explicação dada pela Igreja Católica. Mas, de fato, isso acontece. Agora no que tange ao filme, é uma metáfora, com certeza, mas não a que você sugeriu. Uma possível explicação para o fato de usar a idéia de um corpo que tenha se preservado talvez seja que, parte-se do princípio de que esse é o enigma articulado pela narrativa para abordar uma metáfora sobre a identidade. Uma questão de originalidade.

    'Esse é apenas um exemplo das muitas pontas soltas da história.'

    As pontas não estão soltas na história, e sim, na sua cabeça.

    'Mas apenas colocar os ingredientes na batedeira não faz um bolo.'

    Comentário infeliz o seu...

    'Leonardo Medeiros... Vê-lo em cena é sempre bom. Ao mesmo tempo, é decepcionante, já que só nos resta lamentar sua escolha.'

    Outro comentário infeliz...

    Só digo uma coisa: procure se informar antes de sair descendo o pau no trabalho dos outros. Não foi muito elegante da sua parte.

    Até!

    extra.terrestre00@yahoo.com.br

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  2. Bom, Reuben, como volta e meia eu comento aqui no blog e também em outros veículos, a opinião de um colunista não pretende expressar a verdade absoluta a respeito de nenhum filme. E, em se tratando de opinião, não existe isso de ser "injusto", "infeliz" ou "desinformado" pelo simples fato da minha opinião ser diversa da sua.

    Também vale ressaltar que minha crítica negativa não foi a única que o filme recebeu, como seu texto parece sugerir.

    Eu não sei exatamente qual é a sua relação com a produção (mas que ela existe, fica claro em "apenas li o roteiro"), mas acho que todo mundo que trabalha com arte tem que estar preparado para eventuais críticas negativas e não deveria absorvê-las como um ataque pessoal ou "deselegância", como você disse.

    Eu não tenho nenhum prazer mórbido em "descer o pau" no trabalho alheio, mas tampouco posso me furtar a expressar minha opinião por receio de desagradar A ou B.

    Pontas soltas na minha cabeça? Essa foi realmente engraçada...

    Um abraço,

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  3. Concordo plenamente com tudo que você falou, Erika!

    Abraço!!!

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  4. Boa noite, Erika.

    Em primeiro lugar, quero deixar claro que há um equívoco aí: não tenho nenhuma ligação com a produção, muito menos trabalho com arte. Sou de Minas, eles são de São Paulo. Não os conheço. O que acontece é que o roteiro, argumento, decupagem... estão disponíveis no site do filme e qualquer um pode ter acesso. Portanto, meu comentário não é de alguém que está tomando as dores do filme e, por conseguinte, sendo parcial. Não tenho motivos para isso.

    Continuando...

    'E, em se tratando de opinião, não existe isso de ser "injusto", "infeliz" ou "desinformado" pelo simples fato da minha opinião ser diversa da sua.'

    Ah, não? Mas até mesmo para eu emitir uma opinião, eu preciso saber do que estou falando, isto é, preciso estar informado para não cometer injustiças. Se digo o que bem quero e doa a quem doer, não faço bom uso da minha liberdade de expressão e deturpo-a. Acredito que um pouco de cautela ao expressar uma opinião (e acho que essa é uma atitude sempre muito bem-vinda) é requerida para, no caso em questão, não prejudicar a visão de quem ainda não assistiu o filme e não desvalorizar o trabalho -- o que acabei por ver em seu texto e em outros, ainda que não tenha sido essa a intenção.

    Sei que o filme recebeu várias outras críticas negativas, mas raríssimas são as que se prezem –- a saber: a da revista Paisá, a da Punctum e a escrita por Anahí Borges, do Cinequanon. Cito estas porque foram as únicas que justificaram satisfatoriamente o que apontaram como sendo negativo. As demais que vi – como a do Globo, Veja e muitas outras... – foram extremamente antiéticas e mesquinhas, na minha opinião. Porque chamaram-no de ‘longa arrastado’, ‘trabalho de conclusão de curso’... e pronto. Para quem lê, a imagem que fica é a de que o filme é uma merda. Dificilmente alguém se sentirá motivado a assistir o filme depois de ler isso e ainda ficará com uma péssima impressão. E ainda que o filme seja ruim, isso é interferir na visão de quem ainda não assistiu o filme, o que não me parece, insisto, nada elegante.

    Não se trata de saber receber críticas ou não. O problema que quero apontar quando critico seu texto, não é o fato de vc ter falado mal. É sua opinião, como vc mesma disse e eu a respeito. Mas vc não apresenta justificativas que validem seus argumentos, o que me faz questioná-la. Vc diz que os diálogos não são bons, mas não diz por quê. Que a estrutura é esquisita, e pelo que entendi, busca justificar esse trecho dizendo:

    ‘Por que aquele corpo teria se preservado? Milagre? Ou tudo não passa de uma metáfora do tipo “um dia a verdade vem à tona”?’

    O que percebo é que vc não compreendeu, como já dito antes, que se trata de uma metáfora. Até aí tudo bem. Minha crítica vem a partir daqui, quando vc diz:

    ‘Esse é apenas um exemplo das muitas pontas soltas da história.’

    Como vc não entendeu, atribui à narrativa a falta de coerência. Por isso eu disse que as pontas soltas estão na sua cabeça, e não na história. No sentido de que, não é porque vc não entendeu que alguma coisa esteja errada.

    E é claro que vc não precisa agradar a ninguém. Vivemos numa democracia, onde há liberdade de expressão. Mas acredito que saber usá-la é fundamental. Senão, de que adianta falar mal por falar mal? Ninguém sai ganhando nada com isso, nem vc nem o leitor.

    Minha sugestão é que sejam apresentadas mais justificativas, mas que realmente justifiquem uma ou outra posição.

    Na boa, um abraço. ; )

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  5. Caríssimos,

    O Reuben afirma lá no primeiro comentário que não viu o filme, mas defende ferrenhamente a boa condução do roteiro. Como as pontas soltas estão na minha cabeça, vou passar a bola para vocês: vejam e comentem aqui o que acharam. Ajudem-nos a elucidar esse mistério.

    Quanto a "interferir na visão de quem ainda não assistiu ao filme", isso todas as críticas fazem. Mesmo quando são boas (mas dessas ninguém reclama). Aí já entraríamos numa outra discussão, mais filosófica.

    Abraço a todos,

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