sábado, 21 de junho de 2008

Agente 86


Quem não se lembra da hilária série Agente 86, ícone da TV americana nos anos 60? Com a grande popularidade dos longas de James Bond, surgiu a idéia deste seriado protagonizado por um agente atrapalhado que desbaratava as mais intrincadas conspirações por pura sorte. Get Smart, no original, foi assim batizado como um trocadilho com o nome de Maxwell Smart, agente secreto de uma organização cuja sigla forma a palavra “controle” e que tem como rival uma organização russa cuja sigla forma a palavra “caos”. Engraçadinho, né? Os telespectadores da época também achavam. Agente 86 durou cinco temporadas, de 1965 a 1970, e ganhou vários prêmios Emmy, sendo três deles para a atuação do falecido Don Adams no papel-título.

Agente 86, o filme, optou por partir de um prólogo ao que se via na série e mostra a transição de Max de um funcionário de escritório para agente secreto. A sede da Controle sofre um ataque e a identidade de seus agentes fica exposta. A única exceção é a veterana Agente 99, que acaba de passar por uma cirurgia plástica e está com um rosto totalmente novo. Ela precisa de um parceiro para ajudá-la numa nova missão e o Chefe não tem outra saída a não ser promover Maxwell Smart, funcionário burocrático que sempre sonhou ser um agente de campo.

Assim como ocorreu em Batman Begins, a idéia de ter como ponto de partida um momento anterior ao que já se viu provou ser uma forma eficiente de contar uma história já conhecida de um ângulo totalmente novo. O roteiro de Agente 86 explora a primeira missão de Max, seu primeiro encontro com o célebre vilão Siegfried, seu entusiasmo ao ser designado parceiro da Agente 99, enfim, faz um passeio pelos pontos principais da série sem que isso soe didático, já que tudo é novidade para Max naquele momento.

Outro ponto alto do roteiro está na combinação de ótimas piadas visuais com uma certa ironia inteligente. Um grande destaque está na caracterização de James Caan como um sósia de Bush, com direito, inclusive, a uma reprodução daquela famosa cena dele lendo historinhas para crianças enquanto as maiores desgraças ocorrem em seu país. A cena dele dormindo no concerto de música clássica também é impagável.

Mas nada disso seguraria as pontas do filme se os produtores fracassassem na escolha do protagonista. E fica muito difícil imaginar um rosto do cinema atual para o papel de Maxwell Smart que não seja o de Steve Carell. O ator que ficou famoso pelo infame O Virgem de 40 Anos e, posteriormente, pelo tio gay e deprimido de Pequena Miss Sunshine associa seu carisma imenso a um timing para comédia perfeito. Uma coisa que costuma me irritar em certas comédias é essa regra implícita de que o sujeito só é engraçado se for caracterizado como um imbecil, estereótipo que Carell sabiamente descarta em sua construção de personagem. Seu Max é um cara atrapalhado, mas inteligente e com um certo charme – digamos que seja alguém com quem eu sairia numa noite de sexta. Também é curioso que Carell, apesar de americano, tenha um estilo de humor geralmente associado aos britânicos, que se caracteriza por dizer os maiores absurdos com a cara mais séria do mundo. Não foi à toa que o escolheram para estrelar a versão americana do seriado inglês The Office.

No elenco coadjuvante, destaque para os sempre ótimos Alan Arkin e Terence Stamp. Também o fortão Dwayne Johnson – que agora não quer mais ser chamado de “The Rock” - e o astro de Heroes, Masi Oka, estão interessantes em papéis secundários. O diretor Peter Segal, que começou a carreira com o festejado Corra Que a Polícia Vem Aí 33 1/3, investiu em ícones tradicionais do seriado, como a música-tema, o sapato-fone, as intermináveis portas metálicas da Controle e, como não podia faltar, a entrada pela cabine telefônica. Mas, ao mesmo tempo, criou novas piadas e situações mais de acordo com os dias de hoje. Tudo amarrado por um roteiro escrito com o mesmo humor anárquico e inteligente que caracterizou o seriado. Fique esperto e não perca esse gostoso reencontro com Maxwell Smart.

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