quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Atração Perigosa


Ben Affleck, quem diria, é uma caixinha de surpresas. Lá nos idos de 1998, entrou em Hollywood pela porta da frente, vencendo um Oscar em parceria com o amigo Matt Damon (melhor roteiro original, por Gênio Indomável). Só que, depois disso, as coisas foram saindo dos trilhos em sua carreira. Fez péssimas escolhas como ator (Armageddon e Pearl Harbor são apenas dois exemplos dentre tantos), não escrevia mais roteiros e ainda se meteu num romance escandaloso com Jennifer Lopez. E eis que, quando todo mundo achava que o sujeito estava acabado, ele se reinventa como diretor. E dos bons. Seu dèbut em longas foi há três anos, com o filmaço Medo da Verdade, um noir instigante baseado em Dennis Lehane e adaptado para a telona pelo próprio Affleck. Com este Atração Perigosa (lamentável título em português para The Town), Ben Affleck prova que o resultado obtido com seu longa anterior não foi mera sorte de principiante.

Baseado no livro Prince of Thieves, de Chuck Hogan, o filme abre com dados estatísticos sobre o fato de Charlestown, Boston, ser a capital de roubos a carros-fortes, profissão que, muitas vezes, passa de pai para filho na região. Affleck é Doug McRay, o “cérebro” de um pequeno bando de assaltantes, todos eles de descendência irlandesa e amigos de infância. Após um bem-sucedido assalto a um banco, o grupo começa a ficar apreensivo ao descobrir que Claire, a jovem gerente que havia sido feita de refém, mora na vizinhança. Doug toma para si a tarefa de sondar a moça. Oficialmente, por ser o mais sensato da gangue; na real, por estar atraído por ela desde o dia do assalto. Como o espectador já pode prever desde o primeiro olhar, Doug e Claire se envolverão, o que só reforçará a vontade dele de dar um basta na sucessão de golpes que é sua vida.

Antes de qualquer coisa, é preciso esclarecer que, como trama, o filme não apresenta absolutamente nada de novo. Segue quase uma cartilha do gênero, com elementos batidos como a figura do marginal que tenta mudar de vida, mas tem suas escolhas dificultadas pelo meio e pelas companhias; a pressão do melhor amigo criminoso a quem ele deve grandes favores; a mocinha que se apaixona sem conhecer sua vida pregressa; e, claro, o famoso apelo de realizar um “último trabalho” antes de parar. Mas, estranhamente, todos esses clichês são trabalhados com frescor graças à excelente direção de Ben Affleck, tanto no que diz respeito a obter o melhor de seu elenco como nas empolgantes cenas de ação. Adicionando-se a esta direção segura uma edição precisa e um roteiro bem azeitado, o resultado final é um filme que se destaca pela competência, usando a seu favor até mesmo as limitações de um ator como Jeremy Renner, que parece estar se especializando em tipos brutamontes e de pavio curto. E o próprio Affleck se sai bem no papel principal, embora quem roube a cena seja sempre Rebecca Hall.


Atração Perigosa não chega a estar no mesmo nível de Medo da Verdade, mas é um ótimo thriller de ação e um mais um degrau no caminho de Ben Affleck rumo a um novo e mais elevado patamar. Bom para ele. E para todos nós, que temos mais um talento promissor para ficar de olho.

Sexta-feira nos cinemas.

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