sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Como Esquecer


Algumas pessoas estão comparando este filme com As Horas. A correlação até existe pelo modo de enfocar a desesperança e também pelas referências literárias, mas são dois longas com estruturas dramáticas bem distintas. Enquanto o filme de Stephen Daldry cria alguns mistérios envolvendo suas três protagonistas, a narrativa deste Como Esquecer é mais linear e previsível. Ana Paula Arósio é Júlia, professora universitária de literatura que não consegue suportar o fim de sua relação de dez anos com Antonia. A trama acompanha sua devastação emocional e suas dificuldades de readaptação, no que lembra um pouco o recente Direito de Amar.

Embora seja um filme muito bonito e que dialogue com a literatura, o excesso de narrações em off feitos pela protagonista e os diálogos estilizados incomodam um pouco. Essa falta de naturalismo tem uma razão de ser, é claro, já que Julia é retratada não apenas como professora de literatura, mas como a própria heroína romântica que tenta descrever em suas aulas. Ainda assim, em termos de sétima arte, as frases feitas e rebuscadas não soam muito naturais e isso às vezes acaba comprometendo o nosso envolvimento com a história. Em compensação, a ótima atuação do elenco como um todo traz o espectador de volta para o olho do furacão. Destaque para a cuidadosa aproximação entre as personagens de Ana Paula Arósio e Arieta Corrêa e também para Murilo Rosa, que se sai muito bem com um personagem que costuma ser uma armadilha: o “amigo gay”. Murilo evita o caminho do riso fácil e cria um tipo divertido, porém cheio de nuances.

De todo modo, é sempre muito saudável ver um filme brasileiro que ousa não rezar pela cartilha dos temas recorrentes da nossa sétima arte: miséria, nordeste, tráfico, violência urbana, enfim, o estilo de cinema pelo qual somos conhecidos no exterior. Só pela coragem de buscar uma história singela e de apelo universal, o filme já vale uma conferida.

Como Esquecer (idem), de Malu de Martino. BRA, 2010. 99 minutos. Première Brasil

Nota: 7,0

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