terça-feira, 5 de outubro de 2010

Carancho


Ei-lo, o filme escolhido pela Argentina para concorrer ao Oscar 2011. Desta vez, Ricardo Darín deixa seu habitual parceiro Campanella para reunir-se a outro grande nome do cinema portenho atual, Pablo Trapero. O assunto que o filme aborda é explosivo: a poderosa máfia que se aproveita de pessoas fragilizadas por acidentes para explorá-las em seu momento de maior vulnerabilidade. Darín é Sosa, um “carancho”, advogado decadente que percorre setores de emergência de hospitais, delegacias e até velórios em busca de vítimas em potencial. Uma vez obtida a procuração, a agência para a qual Sosa trabalha fica com a maior parte da indenização e dá apenas uma pequena parcela ao real beneficiário.

Dois eventos quase simultâneos fazem com que Sosa comece a questionar o modo como ganha a vida: uma tramóia que dá errado e sua inesperada paixão pela paramédica Luján. Mas, como costuma acontecer em todo filme de mafiosos, deixar o passado para trás não é algo tão simples assim. O filme se inicia bebendo nas fontes do noir, com um ritmo mais pausado e cenas de muita intensidade emocional contida entre Darín e a igualmente ótima Martina Gusman. A relação entre os personagens é tensa, ambos tem suas feridas particulares e suas dificuldades para se entregar a uma relação. Conforme o longa avança e as coisas se complicam para o casal, o ritmo do filme vai acelerando e a violência vai ficando cada vez mais explícita. O único problema é que Trapero exagera um pouco nessa aceleração, o que faz com que vários detalhes da trama não possam ser bem entendidos pelo espectador, tamanha a velocidade com que os momentos finais são mostrados.

A despeito disso, Carancho é daqueles filmes que ficam na cabeça. Talvez pela inédita reunião de dois talentos como Ricardo Darín e Martina Gusman, que estão fantásticos em seus papéis. Talvez pelo argumento interessantíssimo. Talvez por um pouco de cada coisa. Não está no mesmo nível que O Segredo dos Seus Olhos, mas com certeza tem mais chances no Oscar do que o candidato daqui do Brasil.

Carancho (idem), de Pablo Trapero. ARG/FRA/CHI, 2010. 107 minutos. Mostra Foco Argentina

Nota: 8,5

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