domingo, 3 de outubro de 2010

Quebra-Cabeça


Mais um filme que prova a capacidade dos cineastas argentinos de dar vida a uma trama a partir de qualquer argumento. Neste caso, a partir da descoberta de uma dona de casa do gosto por montar quebra-cabeças. Maria del Carmen é uma mulher de meia-idade que dedicou a vida a cuidar do marido e dos filhos, sem nunca ter encontrado uma identidade própria. Quando ganha um quebra-cabeça de presente de aniversário, descobre, ao mesmo tempo, uma habilidade e uma paixão. Torna-se obcecada pelo passatempo e conhece Roberto, um rico solteirão que procura uma parceira para participar de um torneio.

A diretora estreante Natalia Smirnoff cria uma interessante analogia da descoberta da sexualidade com esse filme. Afinal de contas, o inocente passatempo passa a simbolizar para Maria um prazer proibido, quase uma traição à família. Ela esconde as provas de sua traição debaixo do sofá, mente sem necessidade e dedica cada segundo livre a sua recém-descoberta paixão. E a família, por outro lado, vai se adaptando a essa nova mulher, provando que as pessoas sempre são mais pesadas quando encontram quem lhes carregue.

Justamente por conta dessa abordagem inteligente, é um pouco decepcionante quando o filme cai na armadilha de adicionar outro ponto de interesse à nova Maria. Aí o que era original vira lugar-comum. O desfecho também é frustrante, deixando uma impressão de que o roteiro foi escrito até determinado ponto e, a partir dali, a diretora teve que improvisar um final qualquer. É uma pena que um longa tão interessante entre nessa curva descendente em sua meia hora final.

Quebra-Cabeça (Rompecabezas), de Natalia Smirnoff. ARG/FRA, 2009. 88 minutos. Mostra Foco Argentina

Nota: 6,0

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