quarta-feira, 30 de julho de 2008

A Múmia – A Tumba do Imperador Dragão


A Múmia, primeiro filme desta trilogia, surgiu em 1999 como uma tentativa de preencher o vácuo cinematográfico deixado por Indiana Jones. Ambição que logo de cara se revelou exagerada, quase herética. Porque, como qualquer cinéfilo bem sabe, Indiana Jones é único e insubstituível. O que não quer dizer que A Múmia seja um filme ruim. É uma aventura com tons de comédia bem agradável de se assistir. Pipoca pura, claro, mas ainda assim um filme simpático. Grande parte do mérito repousa sobre os ombros largos de Brendan Fraser e o sorriso bonito de Rachel Weisz, já que a boa química da dupla central era, juntamente com a despretensão, o grande acerto do filme. Sua inevitável sequência, O Retorno da Múmia (2001), podia não possuir o charme de seu antecessor – além de ser uma espécie de campeão de erros de continuidade –, mas continuava sendo ótima diversão. É mais ou menos como certos filmes dos anos 80: você até admite que não são lá essas coisas, mas não consegue evitar gostar. Já este terceiro filme deixa claro que a graça se esgotou no segundo. Mesmo alguém que, como eu, é simpática à franquia não pode deixar de constatar que retomar as aventuras do caçador de tesouros Rick O'Connell foi um erro.

Em primeiro lugar, há o problema incontornável da agora oscarizada Rachel Weisz ter se recusado a participar do longa. Via de regra, eu já acho complicado por natureza essa história de um ator assumir o papel de outro. Mas algumas vezes funciona. A troca foi quase imperceptível no caso de Richard Harris por Michael Gambom em Harry Potter e até mesmo um ganho no caso de Katie Holmes por Maggie Gyllenhaal em Batman. Mas no caso deste filme, a substituição ficou estranha. O que não é culpa de Maria Bello, que é boa atriz e se esforça a ponto de reproduzir um sotaque e tom de voz bem parecido com o de Rachel Weisz... Mas simplesmente não é a mesma coisa. Não há aquela mesma atmosfera de paixão pelo perigo e um pelo outro que rolava entre o casal anterior.

A trama desta vez foi deslocada para a China (aproveitando o oba-oba das Olimpíadas?) e se passa uns dez anos após o segundo filme – dedução feita pelo fato do menino Alex estar adulto, já que Brendan Fraser continua com a mesma cara. O prólogo conta a história do imperador Han, que por conta de sua crueldade e obsessão pela imortalidade, foi amaldiçoado por uma feiticeira e virou uma estátua de terracota juntamente com seu imenso exército. Corta para nossos protagonistas. Rick e Evy estão aposentados: ela escreve livros inspirados nas aventuras vividas nos filmes anteriores e Rick... Bom, Rick parece não estar fazendo nada da vida. Já seu cunhado Jonathan agora vive na China e é dono de uma badalada boate chamada Imhotep (boas piadas o filme continua tendo). Alex, que deixou a faculdade sem pedir permissão aos pais, encontra-se numa escavação na China e descobre a tumba amaldiçoada do imperador. O que ele não sabe é que seus pais aceitarão uma missão diplomática para levar um perigoso artefato de volta ao governo chinês. Preciso dizer que o tal artefato tem a ver com ressuscitar mortos?


Não vou nem criticar a incrível cara-de-pau dos roteiristas, que se valeram de uma relíquia arqueológica real – o exército dos guerreiros de terracota, parcialmente exposto em São Paulo há alguns anos – para criar essa trama maluca. Verossimilhança nunca foi o forte de nenhum filme deste gênero. E o grande problema deste A Tumba do Imperador Dragão nem é fazer uma salada com direito a abominável homem das neves e tudo. O problema é parecer uma cópia pálida de O Retorno da Múmia, apenas trocando a nacionalidade das mesmas. A sequência do enfrentamento entre o exército do imperador Han e dos cadáveres de seus inimigos é quase um clone daquela do segundo filme em que os beduínos enfrentam o exército do escorpião-rei. E não é só: de novo, temos o aviãozinho teco-teco que faz peripécias, nossos heróis enfrentando elementos da natureza, a múmia decrépita que vai ficando jovem, museólogos corruptos, guardiões do Bem misteriosos e, para piorar, um dos personagens centrais sendo salvo das garras da morte por forças ocultas. A sensação de deja vu é inevitável!

O que salva o longa do desastre ainda é seu bom humor e leveza, que continuam intactos. Isso pode ser constatado na quantidade de piadinhas internas. Um exemplo? Quem não se lembra em O Retorno da Múmia quando Rick as vê pelas primeira vez e resmunga “Ah, eu odeio as múmias” como quem acha natural encontrá-las? Pois bem. Nesse filme, ele repete a fala, destacando “Eu realmente odeio as múmias”. Já Jonathan, ao ver Han usando os quatro elementos para atingi-los, bate o martelo sobre o caráter das ditas cujas: “Eu odeio múmias. Elas nunca jogam limpo”.

Sobre o elenco, além da já citada troca de atrizes, há a desvantagem de parte da trama se apoiar no casalzinho insosso formado por Alex O'Connell e Lin, uma das guardiãs da tumba. Será que o interesse romântico deles não convence por não fazer sentido ou pelos personagens serem interpretados pelos fraquíssimos Luke Ford e Isabella Leong? Difícil saber. Sem contar que Ford parece adulto demais para ser filho do jovial Brendan Fraser (na vida real, eles têm 12 anos de diferença). Em contrapartida temos o carismático Fraser cada vez mais à vontade no papel e o alívio cômico de John Hannah (o Jonathan), além da bela presença de Michelle Yeoh como a feiticeira que frustrou os planos do ambicioso imperador. Já o astro Jet Li, a múmia da vez, parece estar mais no elenco como uma participação luxuosa. Seu personagem é mal-construído e lembra um lutador de kung-fu dos dias de hoje ao invés de um imperador. De qualquer modo, vale a curiosidade de ver Li e Michelle lutando – não me lembro desses dois ícones das lutas marciais terem se enfrentado antes.

Assim como os sarcófagos, existem outras coisas que devem ser deixadas em seu descanso eterno. Espero que os produtores sejam mais sábios do que a família O' Connell e não voltem a desenterrar essas múmias.

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