domingo, 6 de julho de 2008

Revendo Closer


Grande parte dos filmes românticos termina quando o relacionamento vai de fato começar, enfocando os caminhos que levam o casal a ficar junto e não a relação em si. Mas o que vem depois do “felizes para sempre”? É isso que o excelente Closer tenta investigar, a partir dos encontros e desencontros entre quatro pessoas: o escritor Dan, a fotógrafa Anna, o médico Larry e a stripper Alice. Revi o filme neste domingo chuvoso e, mais uma vez, não pude evitar a incômoda sensação de que a maioria daquelas situações já aconteceu – ou pior, ainda vai acontecer – a qualquer ser humano ao longo de sua vida.

O longa começa do modo mais convencional possível: Dan e Alice cruzam olhares na rua e, graças a um providencial acidente, se apaixonam perdidamente. O que poderia rechear um filme inteiro aqui ocorre em poucos minutos. É quando a história dá um salto no tempo e percebemos que mudaram sentimentos e convicções. O filme, que abrange cerca de quatro anos da vida de seus protagonistas, é repleto de pequenas elipses. Felizmente, o inteligentíssimo roteiro evita o recurso fácil das legendas e nos informa o tempo decorrido através dos diálogos.

O filme é baseado numa peça do inglês Patrick Marber, sucesso desde sua estréia nos palcos londrinos em 1997 - foi montada aqui no Brasil há sete anos como Mais Perto, sob direção de Hector Babenco. O próprio Marber se encarregou de adaptar o texto para essa versão cinematográfica, o que deve ter contribuído para o resultado final coeso e vigoroso. O filme é teatral, mas no melhor sentido do termo: salvo um ou outro figurante, toda dramaturgia se apóia nos quatro atores que, diga-se de passagem, estão estupendos. Especialmente Natalie Portman e Clive Owen, vencedores dos Globos de Ouro 2005 de melhor atriz e ator coadjuvante - embora considerá-los coadjuvantes seja uma manobra discutível.


Closer faz um assustador painel da relação entre homens e mulheres no mundo moderno, onde a disputa pelo amor acaba se confundindo com poder e dominação. Os personagens usam o amor como desculpa para suas ações, mas parecem estar sempre visando seu próprio bem-estar e a cada nova volta da roda-viva têm um diferente objeto de desejo. A certa altura, Alice expõe a Dan sua mágoa: “Você não pode me abandonar. Sou eu quem sempre abandona as pessoas”. O que dá a medida exata do egoísmo humano, já que as traições mais cruéis sempre são as que sofremos e nunca as que infligimos.

Por outro lado, o texto resiste à tentação de fazer o inferno a partir dos outros. Cada um é seu maior antagonista e é o peso de suas próprias inseguranças que põe tudo a perder. Mas embora os personagens sejam desprovidos de qualquer traço de heroísmo, nenhum deles poderia ser considerado um vilão clássico. Não há o simplismo das grandes maldades e sim a complexidade das mentiras e traições cotidianas. Reações vingativas e rancorosas que a maioria de nós já teve vez ou outra, mas não confessa nem à própria sombra. Absolutamente desconcertante o modo como todos são adoráveis em determinadas passagens e desprezíveis em outras. O mesmo personagem de quem nos apiedamos e que se comporta com a maior dignidade quando está por baixo, mostra sua face tirana logo que a fortuna o favorece.

A estréia do diretor Mike Nichols no cinema foi pra lá de promissora: seu primeiro filme foi o bombástico Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966), seguido do também clássico A Primeira Noite de um Homem (1967). Mas, nas décadas seguintes, a produção de Nichols começou a oscilar entre coisas razoáveis como Lembranças de Hollywood e constrangimentos como Lobo. Mesmo tendo dirigido a premiada série televisiva Angels in America (2003), o diretor andava em débito com a sétima arte até brindar os cinéfilos com este pungente filme.

3 comentários:

  1. Closer é fantástico. Eu preciso rever esse filme. Lembro-me que fiquei completamente impressionado com o que via na tela.

    Beijo!

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  2. Closer é uma pancada, em todos os sentidos, questionando-nos em relação ao que sentimos e praticamos nos relacionamentos. Imperdível...

    Beijo

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