sexta-feira, 4 de julho de 2008

Jogo de Amor em Las Vegas


Não vamos desprezar o poder da inversão de expectativas. Assim como é muito frustrante quando um filme comentado e/ou premiado não se mostra essa cocada toda, é uma gostosa surpresa conseguir se divertir assistindo a um filme que você julgava que seria um lixo. O que esperar de uma comédia romântica que tem como tema aquele manjadíssimo argumento em que duas pessoas incompatíveis são forçadas a conviver e a suposta repulsa não consegue esconder uma forte atração? Nada, certo? E o que dizer se essa mesma história for protagonizada pelos insossos Cameron Diaz e Ashton Kutcher? Aí é apostar no desastre completo.

Mas, a exemplo do recente O Melhor Amigo da Noiva, Jogo de Amor em Las Vegas é um filme tão engraçadinho que consegue agradar ao espectador apesar de ser parecido com pelo menos duzentas outras produções feitas anteriormente. A história – embora isso não faça lá muita diferença – é a seguinte: Joy é uma executiva controladora que planeja cada mínimo detalhe de sua vida. O que ela não podia prever é que o noivo terminaria a relação por não suportar mais seu excesso de energia; Jack, ao contrário, não consegue terminar nada do que se propõe a fazer. Sua apatia constante faz com que ele seja despedido da firma do próprio pai. Arrasados e munidos de seus melhores amigos, os dois se encontram em Las Vegas completamente bêbados enquanto afogam as mágoas. No dia seguinte, acordam de ressaca e com uma aliança no dedo. Uma anulação seria simples e rápida se nesse meio-tempo Jack não tivesse jogado num caça-níqueis e faturado três milhões de dólares. Um juiz de mau humor resolve congelar o dinheiro e os condena a seis meses de casamento forçado.

Uma estadia em Las Vegas, para os americanos, simboliza o mesmo que o carnaval para alguns brasileiros: uma oportunidade de tirar as máscaras e fazer coisas que nunca ousariam em seu ambiente cotidiano. Deve ser por isso que eles vivem cometendo loucuras desse tipo e desfazendo-as logo em seguida. É claro que, juntando o porre casamenteiro e mais a bolada do caça-níqueis, a coisa toda fica muito improvável, mas não vamos entrar nesse mérito. O filme segue a fórmula-padrão do gênero: tanto Jack como Joy têm melhores amigos cínicos e engraçados que só botam mais lenha na fogueira, o casal faz de tudo para provocar um ao outro, trapaceiam para fazer a cara-metade perder sua parte na grana e, claro, ao longo do caminho vão percebendo que o cônjuge não é tão ruim assim, as qualidades vão sobressaindo, os defeitos vão sendo minorados... Enfim, o roteiro segue à risca o caminho esperado.

Então, se não há nada de novo, por que o filme é bom? Não há uma explicação concreta. Talvez porque Cameron Diaz e Ashton Kutcher tenham ótima química em cena. Ou, indo mais além, talvez porque seus papéis sejam perfeitos para eles, aproveitando tanto o jeito meio lesado de Ashton como a pose de chata de Cameron a favor de seus personagens. Outro fator que certamente contribui é a boa qualidade dos coadjuvantes, com destaque para Rob Corddry, que interpreta o melhor amigo de Jack, um advogado bizarro que aparentemente nunca teve um único cliente na vida. Abrilhantam o elenco, ainda, Treat Williams e Queen Latifah.

Detalhe: dizem as más línguas que a trama do filme foi inspirada naquele fatídico episódio em que Britney Spears tomou um porre em Las Vegas e casou com um amigo. Atenção para a última cena antes dos créditos, que mostra em flashback a noite do casamento. Impagável. O diretor Tom Vaughan, que vem de uma carreira basicamente televisiva, fez uma boa aposta. Não daquelas de quebrar a banca, mas vencer quando todas as chances são contra já é uma proeza e tanto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário