domingo, 6 de julho de 2008

Hancock


Você, caro espectador, nunca se perguntou quem paga pelos carros destruídos, vidraças estilhaçadas e tantos outros efeitos colaterais que ocorrem cada vez que um super-herói enfrenta um arquiinimigo? Esse é o mote inicial de Hancock, agravado pelo fato do herói em questão estar a anos-luz de ser um modelo de respeitabilidade. Hancock é mal-humorado, alcoólatra, se veste mal e exala burrice por todos os poros, o que faz com que os cidadãos o odeiem ao invés de idolatrá-lo. Mas também não é para menos: sua carência de neurônios faz com que o cara cometa disparates como descarrilhar um trem inteiro tentando detê-lo ao invés de simplesmente tirar a pessoa em perigo do caminho. Inteligência e super-poderes não necessariamente estão correlacionados, esta é a ótima sacada da trama.

O relações públicas Ray Embrey compreende o potencial desperdiçado por Hancock e resolve ajudá-lo a melhorar a imagem como retribuição a um salvamento. Para tanto, aconselha o herói a aceitar a ordem judicial que o condena à prisão pelos inúmeros danos causados ao patrimônio público. A teoria de Ray é que uma temporada voluntária na cadeia, além de melhorar sua imagem perante a opinião pública, fará com que a população sinta falta de Hancock e entenda que precisa dele.

Que Will Smith é um ator muito talentoso já foi mais do que provado. Desde sua interpretação como Muhammad Ali até, mais recentemente, o drama À Procura da Felicidade e a aventura existencialista Eu Sou a Lenda. Mas o impressionante no ator é a facilidade com que ele consegue interpretar os mais diferentes estilos de personagens, do mais descerebrado ao reflexivo. E neste filme ele transita perfeitamente do escracho da parte inicial do filme com a virada na história que mostra um Hancock mais consciente e necessitado de descobrir suas origens. E é essa competência, mesmo num papel que não exige grande profundidade, que faz com que seu personagem soe humano e transmita emoções verdadeiras num filme que poderia ser apenas mais um besteirol.

Faz bom contraponto com Smith o simpático Jason Bateman, como o bom samaritano que acredita piamente na recuperação de Hancock. Charlize Theron, que a princípio parecia subaproveitada no filme, diz a que veio em seu terço final. Também é engraçado ver o roteirista Akiva Golsman e o diretor Michael Mann, produtores do longa, fazendo uma ponta como executivos presentes a uma demonstração de Ray.

O efeito colateral na virada de rumo da história é que, ao se tornar mais profunda do que se esperaria num filme vendido como pura comédia, também o ritmo do longa se desacelera um pouco. Isso não chega a ser um defeito, mas pode desagradar àqueles que forem ao cinema atrás de boas risadas apenas. No geral, Hancock é um filme bastante original em sua abordagem diferenciada da figura do herói. E não deixa de ser curioso que esteja estreando apenas duas semanas antes do aguardado Batman – O Cavaleiro das Trevas.

Um comentário:

  1. Não sei porque ainda fui assistir Hancock. Esperava tanto pela estréia do filme mas até agora não vi.

    Bom saber que o filme não é decepcionante. Espero boa diversão, ao menos!!!

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