terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Força Policial


Força Policial leva ao extremo o conhecido corporativismo dos policiais americanos perante seus colegas de profissão. Ray Tierney pertence a uma família dedicada ao velho lema de servir e proteger. Seu pai, Francis, é um veterano influente; seu irmão mais velho, Francis Jr., é chefe do departamento, onde também serve seu cunhado Jimmy Egan. Quando o que é reportado como uma batida para prender um traficante termina em um banho de sangue onde quatro policiais são mortos, Ray, por insistência de seu pai, deixa o trabalho burocrático que desempenhava desde que foi ferido em serviço e assume o comando da investigação. Não demora para que ele esbarre em um escândalo de corrupção que atinge todo o departamento e envolve sua família até a medula, levando-o a um impasse entre fazer o que é certo ou proteger as pessoas que ama.

Não se trata de um filme policial, pelo menos não dentro dos parâmetros do que consideramos um exemplar do gênero. O estilo está mais para drama, com pitadas de filme-denúncia. Embora não seja nenhuma novidade o fato da polícia nova-iorquina ser um antro de violência e corrupção, não são todos os filmes que colocam o fato de modo tão institucionalizado como faz esse longa. Corrupção generalizada costuma ser mostrada em Gotham City, não em Nova Iorque. A tendência da maioria dos filmes, no estilo “não vamos ofender ninguém”, é colocar o problema como obra de um indivíduo, um vilão que é a exceção à regra. Não é o que acontece em Força Policial, que mostra a instituição como um mar de lama onde os policiais, como indivíduos, são no mínimo coniventes com a situação.

No meio de tudo isso, Ray, personagem de Edward Norton, é o cara honesto por instinto. Mesmo assim, como vemos no decorrer do filme, ele nem sempre foi um santo dentro de suas funções. Pressionado por colegas e – o que é pior – pela própria família, Ray tampouco é uma pessoa de passado totalmente incorruptível. Mas, ao contrário de seu cunhado Jimmy, ele não quer continuar se afundando cada vez mais nessa espiral de maus hábitos porque, como é revelado mais adiante, sua vida profissional já lhe deu muito mais perdas do que ganhos.

O filme, que obteve em sua maioria críticas negativas no exterior, não é esse desastre todo. Pelo contrário, coloca várias questões relevantes e segura bem o clima de tensão ao longo de mais de duas horas de projeção. E o mérito é todinho de Edward Norton, cujo personagem norteia a trama e dá dimensões morais ao dilema entre ser leal à família ou a si próprio. O ator, um dos mais competentes da atualidade, olha o espectador no olho e o traz para dentro de suas dúvidas, inseguranças e, finalmente, determinação. Não se pode dizer o mesmo de Colin Farrell que, após conseguir boas atuações em O Sonho de Cassandra e Na Mira do Chefe, retorna ao seu estilo habitual e se apresenta de forma superficial e preguiçosa. Assim como a direção sem personalidade de Gavin O'Connor, que derrapa especialmente em sua meia hora final e mergulha em clichês desnecessários como, por exemplo, o ataque de macheza entre Ray e Jimmy no bar vazio.

Apesar de suas limitações, Força Policial é um drama que merece uma conferida. Primeiro, pela similaridade com várias situações que conhecemos e tememos; segundo, por mais uma oportunidade de ver o trabalho fantástico de Edward Norton. Norton à frente de um elenco é sempre garantia de qualidade interpretativa – e isso já vale o ingresso. Estréia nesta sexta.

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